24 dezembro, 2005

Boas...

Mudam-se os tempos
Ando farto de dar voltas à mioleira, para arranjar uma forma de desejar boas festas aos meus leitores e amigos (ou vice versa), sem cair nos lugares comuns habituais. Lamento imenso, mas acho que ainda não vai ser este ano... O facto de me ter levantado às 7:30 para ir trabalhar, e o culminar durante a noite passada de um projecto de 3 meses de stress e responsabilidade elevadissimos, é capaz de não ajudar... O que vale é que agora tenho uma semana de férias e vou com certeza fazer muita coisa interessante sobre a qual vos vou querer falar...

Então ficamos assim: Feliz Natal para todos e respectivas famílias, animais de estimação (excluíndo frangos), e outros dependentes. Que alguém vos oiça e vos ofereça o telemóvel / leitor de MP3 / LCD / DVD / meias / pullover / vélinha que tanto querem e não conseguem comprar...

20 dezembro, 2005

The Return of the Son of Dead Man's Shoes

O meu amigo HiDef descobriu que o filme de que falei há alguns dias afinal existe nas nossas terras em formato DVD com o inspirado e atraente título Vingança Redentora. Por enquanto está apenas em aluguer, mas irá com certeza haver uma edição para venda directa um dia destes... Agora já ninguém tem desculpa para não ver este excelente filme (a não ser as pessoas que não têm DVD ou não estão inscritas em nenhum video clube, não é?)...

16 dezembro, 2005

Retrete I


Hoje estreio este novo espaço, que pretende ser aquilo a que a grande maioria da comunicação social (e anti-social) intitula de "Editorial". Então, perguntarão os leitores que ainda não desistiram, porque é que esta coisa se chama Retrete em vez de EDITORIAL. Passo a explicar o meu raciocínio retorcido e mal-cheiroso...

O Editorial, é o espaço em que o manda chuva de uma publicação, dá palmadinhas nas costas aos seus colaboradores e/ou aos seus leitores. É assim um bocado como o empregado do mês no McDonald's. Ora... apesar de eu ser tão egocêntrico como qualquer director de pasquim, tenho 2 graves problemas: não tenho colaboradores e, apesar das 211 visitas que já tive, suspeito que também não tenho leitores (71,9% das visitas demoraram menos de 5 segundos, o que nem dá para olhar para os bonecos), por isso só me resta dar palmadinhas nas costas a mim próprio e congratular-me por estar a fazer um excelente trabalho e por estar a tornar o mundo um sítio melhor para se viver... Assim sendo, digamos que o que estou a fazer é uma espécie de auto-análise, ou seja, deitar as merdas que tenho na alma cá para fora na esperança que ninguém as leia e que o Blogger desapareça repentinamente num dia de nevoeiro, por forma a que daqui a uns anos não seja possível ficar horrorizado com as brutidades que escrevi no presente. Ou seja, exactamente a mesma coisa que se faz na retrete!

Para além da introdução a este espaço de elevado calibre cultural, queria também fazer um mini-balanço deste primeiro mês a bloggar por aqui. Os primeiros posts que fiz demoraram muito tempo porque estava um 'cadinho enferrujado destas andanças da escrita, mas acho que agora começo a fluir melhor (deve ser o Microlax a fazer efeito). Fui bastante fustigado por escrever sobre um filme infantil, e eu próprio já me auto-flagelei por causa disso, mas devia estar sobre efeito de anti-depressivos ou coisa do estilo (normalmente só começo no Jameson às 7 da tarde). Prometo não escrever sobre mais nenhum filme para menores de 18, OK?

Quanto aos meus antigos camaradas de luta, que tentei chamar para esta nova aventura logo no início, ainda não tive qualquer resposta. Uns porque estão longe, outros porque estão perto mas tomam antibiótico, outros porque se calhar estão velhos, ou porque já têm outro blog para o qual não escrever... Suspeito que terão de me aturar a mim a solo por mais algum tempo. Podem ter a certeza que não me vou já embora, apesar da fraca penetração (ainda não recebi nenhumas cuecas de renda usadas para cheirar), o simples facto de andar por aqui a escrever é suficiente para me sentir melhor, e poder reduzir a dose diária da medicação...

Agradecimentos ao Warren Ellis pela ideia da foto, e ao construtor do meu apartamento pela sanita verde e pelos azulejos com florzinhas que ficaram tão bem... e às pessoas que me têm dito palavras simpáticas (e provavelmente falsas ;-) sobre esta tanga...

Filme : Dead Man's Shoes

Acabei agora mesmo de ver este excelente filme Inglês, e não podia deixar de vir aqui recomendá-lo. Não é um filme de terror, apesar da capa, o título e o 18 levarem o comum dos mortais a pensar isso (viva o marketing a tentar vender as coisas pelo que não são!), mas sim um filme muito realista sobre a estupidez humana, a culpa e a procura da redenção. Acho que é daqueles filmes sobre os quais quanto menos se souber melhor, pelo que nem sequer vou tentar fazer um resumo do argumento.

A realização (de Shane Meadows) é um espanto de economia e contenção, o Paddy Considine (de quem já tinha gostado muito no In America do Jim Sheridan) está arrepiantemente convincente, e a banda sonora em folk minimalista fica-lhe a matar. O cinema Inglês está nitidamente em alta...

Tanto quanto sei não estreou nem saiu em DVD em Portugal, e não sei se alguma vez sairá, mas se tiverem alguma oportunidade de o ver, não o deixem escapar.
(4/5)

15 dezembro, 2005

BD : Blacksad 3 - Alma Vermelha


Canales e Guardino são dois jovens Espanhóis de trinta e poucos anos que, vindos do mundo da animação, tiveram uma estreia auspiciosa com o primeiro volume desta série. Obtiveram suficiente sucesso tanto a nível comercial como crítico, para que a série seja já considerada de culto, e que em Portugal os novos volumes sejam editados praticamente ao mesmo tempo que nos países civilizados.

O Blacksad que dá nome à série é um gato preto com a profissão de detective privado, fazendo assim que o timbre da série seja o Noir animalesco. Este género não é propriamente inovador (Sokal criou-o para aí há uns 20 anos com o seu Canardo), mas a arte de Guardino é tão realista que até podemos esqueçer esse facto.

Passando a este tomo em particular, em termos de arte a coisa funciona tão bem como antes, mas a história é ambiciosa demais para as 50 páginas que o livro compreende. Ao quererem tocar em temas como o terror nuclear, a caça aos comunistas nos EUA, e até a colaboração com o nazismo, perde-se um bocado o ritmo cinemático e a emoção dos volumes anteriores. Não deixa de ser uma boa história bem contada e com ilustrações deslumbrantes, mas acho que para manterem o nível a que nos habituaram os autores teriam de prolongar um pouco mais o álbum para haver espaço para respirar e definir melhor as personagens secundárias.

Uma menção especial para a ASA, não só pelo sincronismo da edição acima referida (só é pena não o fazerem também nas restantes séries), mas também pela qualidade impecável da tradução.

13 dezembro, 2005

Disco : The Strokes - First Impressions of Earth


Quando os The Strokes lançaram Is This It? em 2001, já estavam completamente recheados do hype tradicional da imprensa (principalmente) Inglesa. Este primeiro disco misturava algum rock tradicional, com um pouco de new wave e com as guitarras distorcidas dos Velvet Underground, acrescendo ainda vocais tão distantes que até parecia que o vocalista estava mais para lá do que para cá. O sucesso seguiu e no final do ano lá estava o disco em todas as listas dos melhores do ano... inclusivé na minha! A coisa pegou e surgiram outras bandas (igualmente boas e em alguns casos melhores) como os Interpol e os Franz Ferdinand, com uma sensibilidade rock / new wave semelhante.

Infelizmente ao segundo álbum a coisa não correu lá muito bem, e a banda parecia estar basicamente a repetir o primeiro, mas sem o efeito novidade e com muito pouca energia . Julian Casablancas - o vocalista - ainda mais do que distante, parecia estar a dormir durante a gravação do disco. Pessoalmente já via a banda mais ou menos enterrada, mais uma "One Album Wonder" a ficar pelo caminho da música. Ou será que não?

Para o terceiro álbum a banda teve nitidamente em linha de conta o flop do segundo, e anunciou uma "nova direcção". Essencialmente dobraram a energia, e não se pouparam a mostrar as influências. Aliás, mostram tanto essas influências que quase que pareçe que estamos perante uma compilação de rock: You Only Live Once começa com os acordes do I Want to Break Free dos Queen e transforma-se numa versão bastante bebida e suja dos U2; Heart in a Cage parece Iggy Pop vintage; On The Other Side soa a Blondie; Vision of Division está cheio de rifs maniacos estilo Muse; Electricityscape tem qualquer coisa de Smiths; 15 Minutes é a melhor imitação de Shane McGowan que já ouvi até hoje... Curiosamente a coisa consegue manter a unidade e a identidade da banda. O resto do álbum está mais próximo da sonoridade normal da banda, com destaque muito especial para o 1º single Juicebox que é excelente e que não me faz lembrar nada que tenha ouvido até hoje (e já ouvi muita coisa), e Ask Me Anything a única música calma do disco a marcar o seu centro com beleza.

Os vocais de Casablancas, apesar de se manterem distorcidos, estão muito menos distantes, e até se atreve a cantar como deve de ser em algumas partes. A banda parece ter evoluído imenso e tocam todos em grande forma, com o destaque inevitável para a bela da guitarrada. Enfim, um daqueles discos de rock que fazem uma pessoa sentir-se bem disposta e com energia, e provavelmente o melhor disco da banda - só o tempo o confirmará. À venda a partir de 3 de Janeiro (pelo menos nos países civilizados). (4 1/2 / 5)

Site : The RIAA Prank


Descobri agora este site de um bacano chamado John Hargrave, que se entretem a fazer chamadas a gozar com a RIAA, a Apple, etc. e que depois transcreve para aqui. Parti-me a rir com isto e espero que também se divirtam...

P.S. - Do mesmo autor também há um The Credit Card Prank que é igualmente brilhante...

09 dezembro, 2005

Filme : Narnia


Confesso que ontem quando entrei na sala de cinema com as minhas filhas para ver este filme (o título completo é: As crónicas de Narnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa), estava preparado para mais uma grande seca, como quase todos os filmes produzidos pela Disney tendo os mais pequenos como público-alvo. Afinal acabei por ser tão agradavelmente surpreendido, que até estou por aqui a escrever estas linhas.

O filme baseia-se no primeiro de uma série de 7 livros de fantasia de C. S. Lewis, e conta-nos a história de quatro irmãos que durante o Blitz da 2ª grande guerra, são recambiados pela mãe para uma terrinha remota de Inglaterra para sua segurança. Pouco após a chegada à mansão que lhes passará a servir de casa descobrem, durante uma partida de escondidas, um armário que dá acesso ao mundo mágico de Narnia.

Estamos portanto em pleno território da fantasia, e as comparações com a trilogia do Senhor dos Aneís são inevitáveis. Aliás, não dúvido que o sucesso alcançado pela trilogia, tenha estado na base da decisão da Disney para criar este filme (ou filmes). No entanto a grande distinção é que este filme está nitidamente dirigido às crianças, não sendo tão assustador como o Senhor dos Aneís ou o Barry Trotter.

O filme está muito bem feitinho: os actores vão bastante bem - com destaque para Tilda Swinton que é a Bruxa do título e Georgie Henley no papel da adorável irmã mais nova Lucy; os efeitos não parecem "último grito", mas isso só ajuda a cimentar o aspecto clássico do filme; mas o que sobressaí mesmo é a história. Escrito há mais de 50 anos os irmãos são representados de forma muito realista: hesitam, erram, pensam e sentem como pessoas verdadeiras. Por outro lado o filme também revela às crianças valores "à antiga" que a maior parte dos filmes actuais não fazem. Mesmo apesar das "referências" cristãs e de algum machismo (as duas irmãs ficam fora da grande batalha na parte final do filme), confesso ter-me divertido imenso nas quase duas horas e meia de duração. Quanto à opinião do público alvo, a minha filha mais crescida (8 anos) saiu da sala de cinema a dizer que era "o melhor filme que tinha visto na vida". Sem dúvida um bom sinal... (3 1/2 / 5)

06 dezembro, 2005

dEUS voltou...


Já vai sendo com fervor quase religioso que acompanho cada visita dos dEUS a Portugal. Desculpem, esta foi tão óbvia que até me apetece chorar. E ainda há quem diga que eu escrevo bem (Olá Abílio!), descontando os habituais erros ortográficos, claro!

Este foi portanto o meu quarto concerto dos dEUS propriamente ditos, tendo também tido oportunidade de presenciar os mini-concertos acústicos que Tom Barman deu na Antena 3 e na FNAC, bem como o delicioso concerto com Guy Van Nueten no Paradise Garage. Acho que posso assim ser considerado um especialista em dEUS e criar a minha própria religião (acho que já estou a abusar).

O concerto correspondeu muito à imagem do último disco, ou seja, foi extremamente profissional (era difícil sequer imaginar os problemas de som do épico 1º concerto da Aula Magna que levou a banda a juntar-se ao público e a tocar sem amplificação), mas faltou-lhe duas coisas: um bocado mais de alma, e os restantes membros originais da banda. Esta versão dos dEUS é cada vez mais "a banda do Tom Barman" e torna-se patente a diferença no alinhamento dos temas do último álbum com os mais antigos. Falta ali qualquer coisa a nível das variações de ritmo inesperadas e estranhas a que a banda nos habituou com os seus primeiros discos, e o som é agora mais "limpo" e linear. Digamos que representa bem a diferença entre o muito bom e o genial.

Mesmo assim foi excelente. A nova banda dá o litro e toca que se farta, mesmo que os backing vocals não funcionem muito bem em algumas das músicas mais antigas. O alinhamento foi bem escolhido, apesar da passagem obrigatória de quase todos os singles da banda (pessoalmente tive muita pena que não tenham tocado Hotel Lounge e Sister Dew - para falar só dos singles), e conseguiram incluir algumas surpresas. Barman podia ter sido mais comunicativo (os concertos a solo revelaram-no um entertainer nato), ainda não foi desta que acertaram com o som (mas também já estamos habituados), mas parece-me que não houve uma única pessoa que tenha saído da Aula Magna sem um grande sorriso nos lábios. Mais uma vez ficou a promessa de voltarem cá para o ano e muito provavelmente estarei lá para o quinto concerto.

Na primeira parte tivemos os Absynthe Minded, outra banda Belga com um som muito curioso e difícil de classificar, tal a mistura de géneros. A minha Maria (Olá Maria!) gostou tanto que comprou os dois CDs da banda, não sendo assim de excluir a possibilidade de uma análise por aqui num futuro próximo.

Um agradecimento muito especial ao meu cunhado (Olá PMT!) pela utilização extensiva dessa figura de estilo da sua autoria chamada Olá coiso, e por ter feito um pouco de babysitting em conjunto com a minha cunhada (Olá Fi!).

02 dezembro, 2005

Site : Digg

Durante muitos anos, o slashdot era o site por excelência para quem queria estar a par das últimas notícias de tecnologia e ciência. Com o lema "News for nerds, stuff that matters", sempre esteve livre dos compromissos comerciais dos restantes media, e raro era o dia em que não havia pelo menos uma história de interesse para ler.

Na mesma linha aparece agora este Digg, mas com uma grande diferença: são os próprios leitores que submetem as histórias e posteriormente indicam se um dado post merece destaque ou não (uma espécie de blog totalmente democrático). Só na edição de hoje tive que dar destaque a três histórias: a RIAA (Recording Industry Association of America) processou uma senhora por distribuição ilegal de ficheiros, quando nem sequer tem computador (LOL!); uma crítica ao Firefox 1.5 (por um fanático de Opera, mas mesmo assim interessante) que (noutra história) já teve dois milhões de DLs em 2 dias; depois de rumores de inúmeros crashes na XBox 360, a Microsoft admite que 3% das máquinas colocadas à venda têm defeito (e acham os números bons).

Resumindo: mais um site para os techies adicionarem aos favoritos e visitarem religiosamente todos os dias (e viva a perda de tempo).

29 novembro, 2005

Jogo : The Movies


Já devem ir para aí uns 20 anitos. Estavamos no fase final do apogeu do famoso ZX Spectrum (para incultos e jovens - o primeiro computador para as massas), quando eu e um amigo meu (também ex-director do CC Carbono), fizemos um jogo cujo objectivo era: fazer filmes! A coisa era bastante rudimentar: começava-se com x de dinheiro, escolhia-se um género, um realizador e os actores, fazia-se a rodagem (com possibilidade de alguns acidentes pelo caminho) e depois via-se o resultado na bilheteira e nos Óscares. Na altura eu percebia muito pouco de programação e tinha mais tendência para as artes, por isso eu fiz os gráficos e o meu amigo fez a programação. As formulas inventadas até não estavam nada mal, porque o resultado muitas vezes correspondia às expectativas. Curiosamente mais tarde eu dediquei-me à programação e o meu amigo não quis saber mais nem de matemática, nem dessas cenas dos computadores, acabando por tirar Direito. O jogo esteve quase a ser publicado pela CodeMasters (que ainda existe), mas acabou por ficar tudo em àguas de bacalhau.

É incrível que em 20 anos ninguém tenha tido a ideia de comercializar um jogo semelhante, dada a popularidade do mundo do cinema. Este The Movies da LionHeart de Peter Moulineaux (antigo chefe da saudosa Bullfrog e autor de clássicos como Populous e Syndicate), vem finalmente preencher a lacuna, mas digo desde já que não me enche as medidas.

Neste jogo somos responsáveis pela criação de um estúdio de cinema nos anos 20. Contratamos o pessoal (realizadores, argumentistas, actores, extras, crew, etc.), construímos as instalações (cenários, laboratórios, centros de desintoxicação e até clinicas de cirurgia plástica) e fazemos os filmes que depois são julgados pelos criticos e podem receber prémios. Até aqui estamos perante um jogo do tipo Sim (ou Theme à la Moulineaux) bastante normal. É nitida a tentativa de evoluir o género ao juntar a estes conceitos "batidos", uma personalidade às nossas estrelas. À medida que o tempo passa os nossos actores e realizadores ganham vicios (comida e bebida - drogas era capaz de ser forte demais), fazem birras, enfim são umas melgas incríveis. Apesar de ser uma nuance interessante o conceito é completamente roubado ao The Sims, e acaba por chatear mais do que aumentar o interesse do jogo.

Mais interessante é a possibilidade de participarmos activamente na realização do filme, escolhendo cenários, fatos, cenas e melhorando assim o guião feito pelos nossos argumentistas. Após a rodagem também podemos trabalhar a pós-produção. O resultado final pode ser exportado para um formato autónomo e distribuido a quem bem entendermos. No entanto, e apesar do valor de "novelty" desta opção, ela não impacta verdadeiramente no resultado do filme no universo do jogo, pelo que parece assim um pouco desgarrada.

Somando a tudo isto um nível de "micro-management" imprescindível (por exemplo se não decorarmos o estúdio com palmeiras e fontes e bancos de jardim, somos prejudicados em termos de notoriedade), o jogo acaba por entediar bastante depressa. Penso ser uma oportunidade desperdiçada para fazer um grande jogo, e Moulineaux, apesar da sua fama de visionário, não quis nitidamente arriscar, mantendo-se fiel às normas de mercado. Bastaria por exemplo utilizar actores e realizadores reais (ou caricaturas para evitar processos legais) para que o jogo se tornar muito mais divertido. Tenho a certeza que, com a experiência adquirida em 20 anos a jogar jogos de computador feitos por outras pessoas, eu e o meu amigo conseguiamos conceber bastante melhor.

27 novembro, 2005

Os meus livros de 2005

Mais uma vez sem qualquer ordem em especial.

Aruki Murakami - Kafka on the Shore

Um livro surreal que começa com duas histórias paralelas: a de um rapaz de 15 anos fugido de casa do pai e que anda à procura da sua mãe e irmã, e a de um veterano da II Guerra Mundial próximo do autismo, mas que consegue falar com gatos. Mistura fantasia e realidade de uma forma absolutamente brilhante, como se tivessemos a sonhar o sonho de outra pessoa e a torná-lo nosso. Tradução para Português a ser editada lá para o início do próximo ano.

Gonçalo M. Tavares - Jerusalém

Vencedor merecido dos prémios do P.E.N. Clube Português e José Saramago, este livro conta uma história sobre a loucura e a violência humana de forma pouco linear. Nitidamente inspirado em Kafka, prende o leitor da 1ª à última frase com a sua prosa poética, que nos leva inúmeras vezes a fazer uma pausa para reflexão. O prolifero Sr. Tavares ainda irá dar muito que falar...

Paul Auster - The Brooklyn Follies

Ver post mais abaixo...

Michel Houellebecq - La possibilité d'une île

Descobri Houellebecq há um par de anos e com apenas um trio de livros entrou directamente para a minha lista de autores favoritos. Este é o seu 4º livro, o mais ambicioso e provavelmente também o melhor. Nele é apresentada de forma genial a contradição da vida: a raça humana tem os dias contados e está há muito tempo em auto-destruição, por outro o amor faz com que a vida mereça ser vivida. Um livro verdadeiramente avassalador e que também já tem tradução para Português em curso.

Bret Easton Ellis - Lunar Park


Outro dos meus autores favoritos, que sigo religiosamente desde a sua estreia com Less Than Zero (Menos Que Zero), já lá vão 20 anos. Este vai directamente para o top dos seus livros. Começa por ser uma crítica viperina à distorção provocada pelos media às "celebridades", relatando a vida de sucesso de um tal de Bret Easton Ellis (sim, a personagem principal do livro é a imagem que os media fazem dele), e acaba numa história de fantasmas verdadeiramente arrepiante. Já tem edição Portuguesa pela Teorema.

Matt Ruff - Set This House in Order

O thriller mais original dos últimos tempos (esqueçam o Código). Depois de se dedicar à Ficção Científica com Sewer, Gas and Electric, Ruff escreve este livro sobre dois informáticos com multipla personalidade que é impossível de largar. Um espanto de invenção sem prejuizo da definição das (multiplas) personagens.


Ryu Murakami - In the Miso Soup

Mais um thriller (desta feita japonês) e que não é muito aconselhável a almas mais sensíveis... dado conter descrições basta horríveis. Kenji é um guia do turismo sexual de Tokyo que é contratado por Frank (um turista Americano gordo), durante o ano novo. As coisas complicam-se quando o comportamento estranho de Frank leva Kenji a suspeitar que este seja responsável por uma vaga de assassinatos a percorrer a cidade. Apesar de a descrição parecer banal, este livro está longe disso, levando os seus leitores a pensar sobre os males da vida moderna, e a diferença entre o bem e o mal.

Michael Marshall - Blood of Angels

Terceiro livro de uma série, sucede a The Straw Men e ao inferior The Lonely Dead, inventando um novo género que mistura os livros de psicopatas com as teorias da conspiração. Recomendei os três livros a um amigo que os devorou num instante e depois ficou com turkey porque já não havia mais. Espero que Marshall não fique por aqui...

25 novembro, 2005

Os meus discos de 2005

Com o aproximar do final do ano, toda a imprensa vai começar a compilar as suas listas do ano. Não tendo nada contra as listas em si, sempre achei um pouco confrangedor a repetição que se encontra de lista para lista. Até parece que toda a gente tem a mesma opinião sobre o que foi o melhor do ano, variando apenas a posição em cada uma das listas.

A minha lista não tem ordem, e tem discos que provavelmente não vão ver em mais lista nenhuma, seja porque não foram editados por estas bandas, ou porque eu tenho muito mau gosto.

Começando por uns discos que provavelmente vão ver em muitas listas do ano:


Arcade Fire - Funeral

Apesar de editado em 2004, só em 2005 é que chegou à Europa. Este foi sem dúvida o ano dos Arcade Fire. Enorme sucesso crítico, acompanhado por algum sucesso comercial, foi a "banda da moda" do ano, passando de ilustres desconhecidos, a colaborações ao vivo com David Bowie (que sempre esteve em cima do acontecimento). Para mim não é só um dos discos do ano. É o melhor 1º disco dos últimos 10 anos.


Antony and the Johnstons - I am a bird now

Esta escolha pode parecer algo óbvia dado que Antony já ganhou o Mercury Prize deste ano e deu dois concertos em Lisboa (aos quais infelizmente não consegui ir). No entanto não posso deixar de o incluir, pelos momentos de imenso prazer melancólico que a voz e interpretação desta pessoa me proporcionaram durante este ano. Um dos raros casos em que o hype é totalmente justificado.




Sufjan Stevens - Illinoise

Um autentico ovni, este segundo disco (dos 50 que Sufjan pretende fazer sobre cada um dos estados unidos) confirma o seu autor como um grande compositor, apesar da ambição desmesurada e de uma bela dose de loucura. De uma variedade tão grande - vai desde o folk ao rock, passando pelos grandes musicais e por música religiosa - que até se torna desconcertante, vem recheado de canções (21!) de arranjo complexo e melodias delicadas. Se fizer mais 48 discos como este Sufjan vai garantidamente entrar para a história.

E mais alguns discos que provavelmente não aparecerão nas outras listas:


Dionysos - Monsters in Love

A Inrockuptibles considera-os já há algum tempo a melhor banda francesa ao vivo, e pelo que pude ver do DVD que acompanha este disco (que suscitou a exclamação "Nick Cave on drugs!" de um grande amigo meu), dava tudo para os ver. Para quem não conheçe os Dionysos são mestres na arte do start-stop, ou seja, todas as canções deles têm partes calmas com melodias muito belas e partes de rock desenfrado em plena catarse. A coisa é verdadeiramente original, mas notam-se influências de Pixies, Screaming Jay Hawkins e até Danny Elfman (não sei porquê acho este disco muito próximo dos hambientes soturnos do Tim Burton). Pessoalmente acho este o melhor disco da carreira deles, e não consigo compreender como é que não têm mais projecção internacional. Afinal o que é que os tipos das editoras fazem pelos seus artistas?


Micah P Hinson and The Gospel of Progress - s/t

Mais um disco de 2004 que só chegou à Europa em 2005. Nascido no seio de uma família de fundamentalistas cristãos fanáticos, o pequeno Micah tornou-se a ovelha negra da família, virando-se para a música e para as drogas, passando algum tempo na prisão e tornando-se destituto antes de fazer os seus 20 anos. Basta ouvir a sua voz para se perceber que apesar da sua tenra idade, já passou por mais do que muitas pessoas de 40. Musicalmente as canções centram-se na guitarra acústica do autor, mas com o apoio dos mais variados instrumentos (piano, violoncelo, bateria, flauta, etc.). A produção é tão minimalista que parece que estamos a ouvir uma banda ao vivo. Até se houve o ranger do banco em que Hinson se senta. Um disco de música sofrida mas de uma beleza avassaladora.


Patrick Wolf - Wind in the Wires

Wolf começou a experimentar com a música aos 11 anos, misturando o violino (que terá aprendido desde criança), com os sons de um orgão electrónico. Entre o seu 1º album (Lycanthropy de 2003) e este, teve tempo para estudar composição clássica no conservatório. Este disco está assim recheado com canções essencialmente pop, arranjadas com a riqueza instrumental de uma sinfonia e sobrepostas com uma camada de estranhos ruídos electrónicos, aos quais se soma a excelente interpretação do artista e a beleza dos seus poemas. Provavelmente o disco mais original do ano, e com tamanha demonstração de talento, um caso a seguir...

Para terminar deixo-vos a minha lista de menções honrosas, ou seja, outros discos de que gostei muito e me fartei de ouvir durante o ano, mas que por um motivo ou outro não chegam ao escalão de obra prima:

... And You Will Know Us By The Trail of the Dead - Worlds Apart
American Music Club - Love Songs for Patriots
Buck 65 - Secret House Against the World
dEUS - Pocket Revolution
Doves - Some Cities
Elbow - Leaders of the Free World
Mickey 3D - Matador
Gorillaz - Demon Days
The Kills - No Wow
LCD Soundsystem - s/t
Martha Wainwright - s/t
Piano Magic - Disaffected
Queens of the Stone Age - Lullabies to Paralyze
Wolf Parade - Apologies to the Queen Mary
Yann Tiersen - Les Retrouvailles

Livro : Auster de volta a Brooklyn


Ainda ia eu a meio deste livro e senti uma tentação muito grande de colocar aqui uma crítica do tipo: "Vão à livraria, comprem, leiam, riam, chorem, vivam que vale a pena". Na realidade não tenho muito mais a acrescentar, e sempre senti que não tenho muito jeito para crítica literária (se calhar até nem tenho jeito para nenhuma). Indo mais longe até coloco um bocado em causa a utilidade da critica literária como é feita no nosso país, dado o número de críticas que leio em que fico sem perceber se o critico gostou ou não do livro.

Recomeçemos então pelo essencial: gostei muito deste livro. Se não tivesse de trabalhar, dormir, comer, etc. teria devorado o livro de uma só vez por ser tão viciante como o melhor dos thrillers. Ficou claro? Confesso ser suspeito porque Auster é um dos meus autores favoritos e acho que não há um único livro dele que não mereça ser lido. Este é um pouco atípico no sentido de que é mais leve do que o habitual, mas é uma leveza que funciona no bom sentido.

Não se pode propriamente dizer que este livro tenha "uma história". O narrador do livro é um tal de Nathan, 60 anos, recém divorciado e sobrevivente a um cancro de pulmão. Apesar de um passado nitidamente sofrido, resolve instalar-se em Brooklyn à espera da morte, e começa a viver a vida com o entusiasmo de um recém nascido. Pelo caminho re-encontra ou conheçe inúmeras pessoas cujas histórias nos são contadas.

Auster dedicou este livro à filha Sophie, e consigo com alguma facilidade imaginá-la a pedir ao pai para escrever algo menos escuro e mais próximo da joie de vivre demonstrada nos argumentos de Smoke e Blue in the Face (que já se passavam em Brooklyn). Esse objectivo é plenamente conseguido, o mundo não é apresentado como um conto de fadas, é muito complicado e cheio de dificuldades e perigos, mas são essas dificuldades que tornam mais fortes e melhores as personagens imperfeitas do livro.

Ainda não estando editado em Portugal (não devendo faltar muito, dado o sucesso do autor neste país), recomendo a toda a gente a leitura do original, até porque a linguagem de Auster é tão simples que se presta bem à iniciação à leitura em inglês.

Paul Auster - The Brooklyn Follies - Faber and Faber 2005 - ISBN 0-571-22497-0

18 novembro, 2005

Disco : Uma parada de lobos


Como podem ver estou em grande forma! Prolifero como sempre e a este ritmo vou com certeza conseguir entrar para o Guinness com o blog mais longo de sempre! Consegui fazer o meu 2º post antes de completar um ano sobre a sua concepção original! Mantendo este ritmo podem contar com o próximo lá para Outubro de 2006!!!

Venho por esta ocasião falar-vos de um disquinho tão novo que nem o devem conseguir encontrar nas lojas onde costumam ir... Trata-se do primeiro àlbum de um grupo de quatro rapazes de Montreal (Canadá) que se intitulam Wolf Parade. O disco por sua vez chama-se Apologies To The Queen Mary... e foi editado pela Sub-Pop.

Como deverão saber (ou talvez não), o Canadá está na moda em termos musicais. Desde que os Arcade Fire se tornaram conhecidos, só se houve falar em bandas de Montreal. Estes têm a particularidade de terem começado a fazer as primeiras partes dos concertos dos referidos Arcade Fire. Por outro lado o disco foi produzido por Issac Brock, guitarrista dos Modest Mouse. O som em termos genéricos é assim uma amalgama de Arcade Fire com Modest Mouse (se calhar até se podiam chamar Modest Fire), mas notam-se muitas mais influências desde new wave, aos Pixies, passando pelos Pavement. A coisa resulta num indie-rock de estilo festivo desencantado e com complexidade instrumental sub-produzida que, bastante longe de imediato, melhora com as audições até atingir o nível de viciante (em que se torna muito difícil ouvir outra coisa durante um mês). Levam um pequeno desconto na nota pela presença de alguma repetição pelo meio do àlbum, a qual pode ser apenas devida a uma escolha menos feliz do alinhamento. (4/5)