25 novembro, 2005
Livro : Auster de volta a Brooklyn
Ainda ia eu a meio deste livro e senti uma tentação muito grande de colocar aqui uma crítica do tipo: "Vão à livraria, comprem, leiam, riam, chorem, vivam que vale a pena". Na realidade não tenho muito mais a acrescentar, e sempre senti que não tenho muito jeito para crítica literária (se calhar até nem tenho jeito para nenhuma). Indo mais longe até coloco um bocado em causa a utilidade da critica literária como é feita no nosso país, dado o número de críticas que leio em que fico sem perceber se o critico gostou ou não do livro.
Recomeçemos então pelo essencial: gostei muito deste livro. Se não tivesse de trabalhar, dormir, comer, etc. teria devorado o livro de uma só vez por ser tão viciante como o melhor dos thrillers. Ficou claro? Confesso ser suspeito porque Auster é um dos meus autores favoritos e acho que não há um único livro dele que não mereça ser lido. Este é um pouco atípico no sentido de que é mais leve do que o habitual, mas é uma leveza que funciona no bom sentido.
Não se pode propriamente dizer que este livro tenha "uma história". O narrador do livro é um tal de Nathan, 60 anos, recém divorciado e sobrevivente a um cancro de pulmão. Apesar de um passado nitidamente sofrido, resolve instalar-se em Brooklyn à espera da morte, e começa a viver a vida com o entusiasmo de um recém nascido. Pelo caminho re-encontra ou conheçe inúmeras pessoas cujas histórias nos são contadas.
Auster dedicou este livro à filha Sophie, e consigo com alguma facilidade imaginá-la a pedir ao pai para escrever algo menos escuro e mais próximo da joie de vivre demonstrada nos argumentos de Smoke e Blue in the Face (que já se passavam em Brooklyn). Esse objectivo é plenamente conseguido, o mundo não é apresentado como um conto de fadas, é muito complicado e cheio de dificuldades e perigos, mas são essas dificuldades que tornam mais fortes e melhores as personagens imperfeitas do livro.
Ainda não estando editado em Portugal (não devendo faltar muito, dado o sucesso do autor neste país), recomendo a toda a gente a leitura do original, até porque a linguagem de Auster é tão simples que se presta bem à iniciação à leitura em inglês.
Paul Auster - The Brooklyn Follies - Faber and Faber 2005 - ISBN 0-571-22497-0
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