25 novembro, 2005

Os meus discos de 2005

Com o aproximar do final do ano, toda a imprensa vai começar a compilar as suas listas do ano. Não tendo nada contra as listas em si, sempre achei um pouco confrangedor a repetição que se encontra de lista para lista. Até parece que toda a gente tem a mesma opinião sobre o que foi o melhor do ano, variando apenas a posição em cada uma das listas.

A minha lista não tem ordem, e tem discos que provavelmente não vão ver em mais lista nenhuma, seja porque não foram editados por estas bandas, ou porque eu tenho muito mau gosto.

Começando por uns discos que provavelmente vão ver em muitas listas do ano:


Arcade Fire - Funeral

Apesar de editado em 2004, só em 2005 é que chegou à Europa. Este foi sem dúvida o ano dos Arcade Fire. Enorme sucesso crítico, acompanhado por algum sucesso comercial, foi a "banda da moda" do ano, passando de ilustres desconhecidos, a colaborações ao vivo com David Bowie (que sempre esteve em cima do acontecimento). Para mim não é só um dos discos do ano. É o melhor 1º disco dos últimos 10 anos.


Antony and the Johnstons - I am a bird now

Esta escolha pode parecer algo óbvia dado que Antony já ganhou o Mercury Prize deste ano e deu dois concertos em Lisboa (aos quais infelizmente não consegui ir). No entanto não posso deixar de o incluir, pelos momentos de imenso prazer melancólico que a voz e interpretação desta pessoa me proporcionaram durante este ano. Um dos raros casos em que o hype é totalmente justificado.




Sufjan Stevens - Illinoise

Um autentico ovni, este segundo disco (dos 50 que Sufjan pretende fazer sobre cada um dos estados unidos) confirma o seu autor como um grande compositor, apesar da ambição desmesurada e de uma bela dose de loucura. De uma variedade tão grande - vai desde o folk ao rock, passando pelos grandes musicais e por música religiosa - que até se torna desconcertante, vem recheado de canções (21!) de arranjo complexo e melodias delicadas. Se fizer mais 48 discos como este Sufjan vai garantidamente entrar para a história.

E mais alguns discos que provavelmente não aparecerão nas outras listas:


Dionysos - Monsters in Love

A Inrockuptibles considera-os já há algum tempo a melhor banda francesa ao vivo, e pelo que pude ver do DVD que acompanha este disco (que suscitou a exclamação "Nick Cave on drugs!" de um grande amigo meu), dava tudo para os ver. Para quem não conheçe os Dionysos são mestres na arte do start-stop, ou seja, todas as canções deles têm partes calmas com melodias muito belas e partes de rock desenfrado em plena catarse. A coisa é verdadeiramente original, mas notam-se influências de Pixies, Screaming Jay Hawkins e até Danny Elfman (não sei porquê acho este disco muito próximo dos hambientes soturnos do Tim Burton). Pessoalmente acho este o melhor disco da carreira deles, e não consigo compreender como é que não têm mais projecção internacional. Afinal o que é que os tipos das editoras fazem pelos seus artistas?


Micah P Hinson and The Gospel of Progress - s/t

Mais um disco de 2004 que só chegou à Europa em 2005. Nascido no seio de uma família de fundamentalistas cristãos fanáticos, o pequeno Micah tornou-se a ovelha negra da família, virando-se para a música e para as drogas, passando algum tempo na prisão e tornando-se destituto antes de fazer os seus 20 anos. Basta ouvir a sua voz para se perceber que apesar da sua tenra idade, já passou por mais do que muitas pessoas de 40. Musicalmente as canções centram-se na guitarra acústica do autor, mas com o apoio dos mais variados instrumentos (piano, violoncelo, bateria, flauta, etc.). A produção é tão minimalista que parece que estamos a ouvir uma banda ao vivo. Até se houve o ranger do banco em que Hinson se senta. Um disco de música sofrida mas de uma beleza avassaladora.


Patrick Wolf - Wind in the Wires

Wolf começou a experimentar com a música aos 11 anos, misturando o violino (que terá aprendido desde criança), com os sons de um orgão electrónico. Entre o seu 1º album (Lycanthropy de 2003) e este, teve tempo para estudar composição clássica no conservatório. Este disco está assim recheado com canções essencialmente pop, arranjadas com a riqueza instrumental de uma sinfonia e sobrepostas com uma camada de estranhos ruídos electrónicos, aos quais se soma a excelente interpretação do artista e a beleza dos seus poemas. Provavelmente o disco mais original do ano, e com tamanha demonstração de talento, um caso a seguir...

Para terminar deixo-vos a minha lista de menções honrosas, ou seja, outros discos de que gostei muito e me fartei de ouvir durante o ano, mas que por um motivo ou outro não chegam ao escalão de obra prima:

... And You Will Know Us By The Trail of the Dead - Worlds Apart
American Music Club - Love Songs for Patriots
Buck 65 - Secret House Against the World
dEUS - Pocket Revolution
Doves - Some Cities
Elbow - Leaders of the Free World
Mickey 3D - Matador
Gorillaz - Demon Days
The Kills - No Wow
LCD Soundsystem - s/t
Martha Wainwright - s/t
Piano Magic - Disaffected
Queens of the Stone Age - Lullabies to Paralyze
Wolf Parade - Apologies to the Queen Mary
Yann Tiersen - Les Retrouvailles

2 comentários:

Ferrão disse...

Excelente lista! Alguns conheço muito bem (Mickey 3d,Trail of Dead, Arcade Fire, Gorillaz, Yann Tiersen...), e os que não conheço vou investigar ;)
Finalmente alguém que ouve pop contemporânea francesa :)

Unknown disse...

Pois ao que parede, amigo (e nós que sempre andámos mais ou menos de mãos dadas em realção ao gosto musica - e contra os do 10ºandar) não podíamos ter listas mais diferentes de 2005.
heeheheh.