30 junho, 2006

Discos : Vêm aí os Russos!

Depois das desilusões das novidades rock do 2º trimestre de 2006, começei ainda mais intensamente a procurar coisas diferentes para ouvir, e eis que de repente me deparo com 3 discos de influência ou origem russa que não paro de ouvir... Será coincidência, ou será o início da guerra fria na música?


Gogol Bordello - Gypsy Punks

Já aqui tinha feito uma referência aos Gogol Bordello quando da análise do filme Everything is Illuminated de Liev Schreiber... É que o moço que basicamente injecta o filme de humor é um tal de Eugene Hutz, vocalista destes Gogois... Basicamente Hutz (originário da Ucrânia) é um daqueles tipos que não pára: para além desta banda, é famoso pelos seus DJ sets técnicamente débeis em que mistura todos os tipos de música e põe toda a gente em festa, e ainda consegue arranjar tempo para andar um pouco por todo o mundo a descobrir / colaborar com outros músicos.

Pela investigação que fiz os concertos são momentos verdadeiramente épicos em que a banda (bastante numerosa) enche qualquer palco, as lotações excedem a lotação, e terminam invariavelmente com suor a pingar do tecto como se estivesse a chover... Por razões óbvias, nunca tive oportunidade de os ver, mas este disco abre sem dúvida o apetite para tal espetáculo... O título reflete correctamente o conteúdo, estamos perante uma mistura perfeita da música cigana da região das Balcãs (pensem na música e na confusão dos filmes do Emir Kusturica) com o melhor que as várias facções do Punk nos ofereceram ao longo dos anos. O resultado é um disco perfeito para acompanhar festas bastante inebriadas, mas que fora de tal ambiente é suficiente para uma pessoa ficar imediatamente mais bem disposta ou mesmo excitada (que é o caso da minha Maria sempre que ponho a faixa Start Wearing Purple a tocar no carro)... E para além do efeito novidade, nota-se que todos os intervenientes para além de serem excelentes músicas, já se integram admiravelmente uns com os outros. ( 4,5 / 5 )


Beirut - Gulag Orkestar

Apesar de soar a uma orquestra dos Balcãs, daquelas com acordeões, violinos, trompete, triangulos e pandeiretas, na realidade o seu autor, que dá pelo nome de Zach Condon, tem muito pouco de Russo. É um jovem de 19 anos de Albuquerque que escreveu este belo disco após uns tempos à deriva pela "velha" Europa.

Para além da óbvia capacidade de composição, Zach tem uma voz que se parece adaptar com facilidade a qualquer tipo de música, e o àlbum não se fica apenas pelo "folklore", indo buscar influências adicionais ao México, a França (o acordeão de Mount Wroclai podia ter saído de um disco do Yann Tiersen) à synth-pop dos anos 80 e até à New Wave (o tom de voz faz lembrar um pouco o David Byrne do início dos Talking Heads).

Está longe de ser um disco perfeito, penso que uma produção mais "limpinha" com os instrumentos mais distintos e a voz mais nitida ficaria melhor, mas o som lo-fi deve ter sido uma opção estética intecional. Por outro lado, alguns temas têm tendência a repetir algumas ideias já apresentadas, o que poderá cançar algumas pessoas. Mas é sobretudo um excelente início de uma carreira de alguém estupidamente talentoso e que espero que venha a dar muito que falar... ( 4 / 5 )


Regina Spektor - Begin to Hope

D
e naturalidade Russa, filha de um violinista amador e de uma professora de música do conservatório, emigrou para o Bronx aos 9 anos. Descobri-a com o àlbum anterior (Soviet Kitsch de 2004) do qual já tinha gostado bastante, apesar da imaturidade visível. Este Begin to Hope vem confirmar os melhores prognósticos...

Integrada com muita facilidade na categoria de "Cantautora-tresloucada-ao-piano" onde já figuram Tori Amos e Fiona Apple (curiosamente também tenho todos os discos de ambas), Spektor consegue, principalmente neste disco, dispersar-se um bocado mais em termos estilisticos, abraçando estilos tão diversos como a pop, o rock, os blues e até o jazz. Tem uma daquelas vozes com "tiques" únicos que ou se adora ou se odeia e que, à semelhança do estilo das suas composições também se adapta a qualquer tipo de registo.

O resultado final é um disco variado tanto em estilo como em tom, e onde cada pessoa poderá com certeza encontrar as suas músicas favoritas. Pessoalmente deliro com o classissismo Russo de Aprés Moi, o rock a roçar o punk de That Time, e com a homenagem fumarenta a Billie Holliday que dá pelo nome de Lady. Independentemente do que possam ler noutras críticas (já vi criticas negativas em tom de "menino-a-fazer-birra" na nossa imprensa), este é um disco que têm que ouvir para saber se gostam... Eu adorei. ( 4,5 / 5 )

19 junho, 2006

Filme : Temporada de Patos


Vi no outro dia esta 1ª longa metragem do Mexicano Fernando Eimbcke, que foi uma excelente surpresa. É mais um daqueles filmes feitos por meia dúzia de trocos que vem provar que não é preciso criar argumentos conturbados e gastar rios de dinheiro em actores cabotinos e efeitos especiais para prender os espectadores e transmitir algo em termos emocionais...

Filmado a preto e branco, mostra-nos o Domingo de um par de miúdos de 14 anos que ficam sózinhos num apartamento a beber Coca-Cola, comer Pizza e jogar XBox... Mas como não poderia deixar de ser, os melhores planos saiem sempre furados... Recorrendo quase exclusivamente a um set (o apartamento) e a 5 actores com pouca experiência, a coisa funciona muitissimo bem e diverte sem estupidificar... A realização está cheia de pormenores inteligentes e também gostei muito da fotografia com o seu ligeiro toque de baço... Penso que temos mais um realizador a somar aos mexicanos brilhantes que têm aparecido nos últimos tempos (González Iñárritu e Alfonso Cuarón) faltando apenas provar com a continuidade da obra.

Passou pelo Indie Lisboa de 2005 e teve direito a estreia em sala por cá e lembro-me na altura de ver posters na rua e tudo (o que é de espantar para um filme tão pouco comercial). Só agora com a saida iminente do DVD (a cargo da nossa amiga LNKaka - esperem portanto o pior) é que tive oportunidade de o ver, e não posso deixar de recomendar... ( 4 / 5 )

18 junho, 2006

Retrete III : Anti-nacionalismo em tempos de nacionalismo

Consigo facilmente imaginar os poucos leitores que me restam a sentirem-se completamente exasperados por este meu silêncio superior a um mês... Principalmente porque já me aconteceu o mesmo... Mas a coisa é facilmente justificável por um periodo em que não vi / li / ouvi nada de particularmente recomendável, seguido de uma semana fora do país para apresentar a alucinante cidade de Londres às minhas filhas (prova fotográfica acima... só falta o selo com a data e hora)...

Numa atitude de particular desrespeito pelo principal passatempo nacional e aparente única causa de orgulho e nacionalismo (vulgo "a bola"), parti no dia da estreia da nossa selecção, e regressei no dia do segundo jogo, pelo qual me deram os parabéns no balcão de check-in. Hoje sinto-me como se tivesse uma das piores ressacas da minha vida, apesar de apenas ter consumido durante o dia de ontem um pint de Guinness... Tudo me parece cinzento e desbotado e feio e em camara lenta... Onde estão as multidões multiraciais e multitribais de Oxford Street e Piccadilly Circus e Candem? Onde é que eu vou para conseguir um Espresso Frapuccino? Onde é que é a Virgin / HMV / Borders mais próxima? Olha... por cá tens a FNARC e estás cheio de sorte...

Enfim... Nunca me senti tão atraído pela emigração... Até porque por lá se vêm muito mais bandeiras nas janelas e nos carros do que cá...

P.S. - A inclusão da capa do novo dos The Divine Comedy na foto não é intencional, até porque o disco foi uma tremenda desilusão da qual só consigo gostar de uma faixa (Lady Of A Certain Age)... O resto parece redefinir o significado da palavra pedante...