Continuando na veia do futurismo pessimista do post anterior, aproveito para fazer mais um bocadinho de publicidade a esta banda. O facto de não termos esperado mais cinco anos pelo sucessor de With Teeth, parece um verdadeiro milagre. O Reznor normalmente deixa passar uns 5 anos entre álbuns, mas desta feita, revigorado por uma tournée de sucesso, deu-se por satisfeito após meros 2 anos. Este Year Zero foi precedido por uma campanha de marketing viral absolutamente única que iniciou com o "esquecimento" de pens com músicas do disco nas casas de banho dos locais de concerto (a primeira foi encontrada no Coliseu), passou por um número enorme de sites em que o nome da banda nem sequer consta, e continuou com um telefone encontrado na análise espectrografica de uma das músicas "encontradas", a partir do qual se poderia ouvir um interrogatório falso.
Estamos perante um concept album (ou talvez project, porque parece que não ficaremos por aqui) em que Reznor nos apresenta a sua visão dos EUA daqui a 15 anos, e não é uma vista bonita. A guerra contra o terrorismo tornou-se santa, a povo Americano é sedado diariamente através de drogas introduzidas no abastecimento de água, e existe um movimento de resistência que tenta usurpar o poder da forma mais violenta possível. Nada de particularmente original, mas nitidamente um estudo (ou será um protesto) sobre a realidade actual.
Mas esquecendo os conceitos, o que interessa mesmo é a música. Reznor começou a brincar com loops de ruído no seu portátil quando estava em tournée, e acabou por compor e gravar grande parte do disco, o que faz que a sonoridade se aproxime mais do seu primeiro álbum (Pretty Hate Machine), gravado por tuta e meia e a solo. O que é verdadeiramente impressionante, é a forma como quase não se reconhecem instrumentos tradicionais na maioria das músicas. Foram certamente utilizados, mas ao serem espezinhados electronicamente, tornam-se mero ruído. No entanto as canções estão construídas de uma forma que consegue tornar esta tempestade de ruído em melodia e ritmo, e sendo verdade que todas são imediatamente reconhecíveis como NIN, ao mesmo tempo conseguem ser de uma originalidade que as torna incomparáveis com qualquer outra música feita nos nossos dias. ( 4,5 / 5 )
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