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Não sendo possível fazer uma sinopse de um filme que na realidade não tem uma história (no sentido clássico do termo), digamos que estamos perante a vida de uma actriz a rodar um filme amaldiçoado e que, ao começar a apaixonar-se pela estrela masculina, entra num mundo de pesadelo. Basicamente, a parte "linear" do filme ocupa a sua primeira hora, as duas horas restantes, vêm directamente do subconsciente do Lynch para assombrar o nosso.
Este é portanto o filme mais experimental do homem desde o seu início de carreira há 30 anos com Eraserhead (e ainda sinto frio na nuca quando penso nesse filme e me lembro dos pesadelos que me deu). Também representa a sua estreia em vídeo digital, e é nítido o prazer que Lynch tirou do suporte, ao permitir-lhe filmar com luz mínima e fazer maravilhas em termos de textura na criação dos ambientes sombrios que lhe são habituais. Depois, tanto as personagens como as interpretações são uma verdadeira delícia, com óbvio destaque para a Laura Dern num dos papeis mais virtuosos que me lembro de ver em toda a história do cinema.
Não consigo imaginar outro realizador que seria capaz de nos dar 3 horas de filme, tão incompreensível como hipnótico e belo, e conseguindo de alguma forma chegar a um sentido de encerramento dos círculos em que nos fez andar durante o filme, verificando-se que toda a plateia saiu da sala com um enorme sorriso nos lábios. Mais do que um filme, isto é uma experiência de vida que vem comprovar mais uma vez que Lynch continua muito (mas mesmo muito) à frente do resto dos realizadores actuais. ( 5 / 5 )
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