Comecei a ler Agualusa há coisa de um ano e contrariamente às orientações que normalmente me imponho, nomeadamente aquela que me diz que devo deixar passar um mínimo de 6 meses entre cada livro de um dado autor, este foi o 4º livro dele que li. O primeiro foi Um Estranho em Goa, que faz uma evocação perfeita daquela região que visitei há uns anos, e que me deixou cilindrado com a qualidade da escrita do homem. Depois seguiram-se o premiado Vendedor de Passados e a recolha de contos Passageiros em Trânsito. Com este, o autor entra definitivamente na minha lista de escritores a seguir fervorosamente.
Passando-se em Luanda em 2020, o livro vai alternando capítulos vistos do ponto de vista de um tal Bartolomeu Falcato, romancista de sucesso e sem papas na língua (e claro alter ego de Agualusa), e Núbia de Matos, uma cantora também ela de sucesso, e amante ocasional do primeiro. A trama é demasiado complexa para a tentar sequer resumir aqui, principalmente quando juntamos uma quantidade muito considerável de incríveis personagens secundárias (e que nos são formalmente apresentados de forma muito teatral). Digamos apenas que a colocação da narrativa no futuro, tem por objectivo a hipérbole do presente, nomeadamente ao nível daquilo que (imagino) seja a politica e a corrupção em Angola.
Como nos anteriores livros, Agualusa mistura de forma assombrosa a ironia com a realidade e as lendas. Tão depressa temos momentos de brilhante humor, como episódios verdadeiramente viscerais. Talvez seja mesmo por esta permanente mudança de registo que possa não ser considerado formalmente como o melhor livro do autor, mas sinceramente, foi o que gostei mais até hoje, e também no qual se nota claramente o enorme gozo que Agualusa terá tido ao escrevê-lo.
1 comentário:
Encontrei! :)
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