Para os distraídos (e nitidamente pouco fieis a este blog), o SBES foi um festival em cinco salas em simultâneo em plena Baixa de Lisboa (S. Jorge 1 + 2, Tivoli, Maxime e Variedades), pensado para apresentar bandas menos conhecidas aos lucky few, que quisessem andar a passear em duas noites de Inverno. Como já devem ter percebido pelo facto de estar a escrever estas linhas: eu estive lá.
Dia 1 (3/12)
Comecei por passar pelo Maxime e ver um pouco de Jack Rose. O ex-guitarrista dos Pelt, estava a tocar acústico e a solo e, apesar de uma apreciável técnica, eu não estava propriamente virado para aquele estilo. Depois, e apesar das diversas escolhas possíveis (Ladyhawke, Caravan Palace e Os Pontos Negros), decidimos dirigir-nos logo para Tivoli que seria o local do prato forte da noite (já lá iremos). Aí presenciei um concerto razoável de José James, acompanhado por uma boa banda de jazz clássico, estilo em que tenta incorporar referências mais modernas como o hip hop. Confesso que o jazz não é propriamente o estilo que mais me conta (dá-me sempre a sensação que já foi quase tudo dito pelos grandes do passado), e parece-me que as notas modernizantes de que James tenta infundir servem mais para irritar do que para inovar. De qualquer forma passou-se bem o tempo (sempre foi melhor do que ficar na rua à chuva).
O dito do prato forte da noite foi a estreia em palcos nacionais da Santogold. Acompanhada apenas por um DJ e duas bailarinas robóticas, a Santi conseguiu com muita facilidade animar a plateia, e foi um espectáculo muito divertido. Essencialmente percorreu grande parte do seu disco de estreia, com a enorme mistura de estilos que neste vive, e ainda houve espaço par um cover (pouco convincente) de Guns of Brixton dos Clash. No final tivemos Creator a terminar a festa com direito a uma mini invasão de palco. Apesar de toda a exuberância, e do conceito das bailarinas que não alteraram a sua expressão facial nem um segundo durante o concerto, tive alguma dificuldade em encontrar alma na coisa. Talvez pela ausência de uma banda a sério em palco, talvez pelo próprio material de origem, o facto é que o concerto ficou um pouco aquém das minhas expectativas.
Dia 2 (4/12)
Para o 2º dia o panorama estava bastante mais fácil, uma vez que decidimos concentrar as nossas atenções numa só sala - o teatro Variedades. Não é que não houvesse mais coisas interessantes para ver, mas todos os concertos deste espaço eram interessantes. E foi uma aposta bem ganha...
Começando pelo por aqui muito badalado concerto da Lykke Li, em que as minhas expectativas foram facilmente superadas. A simplicidade com que as músicas foram gravadas no seu disco de estreia, presta-se a toda a espécie de variações ao vivo, e isso é aproveitado com uma mestria que falta a muita gente com o dobro da sua idade. Também houve lugar a covers (desta vez totalmente convincentes) de Cape Cod Kwassa Kwassa dos Vampire Weekend e Can I Kick It dos A Tribe Called Quest, e uma mini invasão de palco com 3 espectadores a serem chamados ao palco para "ajudar" na percussão. E quando a meio do Little Bit apontou para mim (e para os 200 marmanjos atrás de mim) e cantou Cause I would do anything, Anything, To have you as my man, confesso que senti o coração a acelerar e os joelhos a fraquejar. Para mim um dos concertos do ano, e que confirma que esta senhora tem todas as condições para se tornar um caso muito sério...
Seguiram-se os Zita Swoon, que já tinha visto há uns anos na Aula Magna, mas que mesmo assim me conseguiram surpreender. Assim que as pessoas abandonaram o concerto anterior (provavelmente para se dirigirem para o Tivoli e tentarem ver os The Walkmen que parece que também foi muito bom), a própria banda montou um mini-palco no centro da plateia, com todos os instrumentos virados para o centro, enquanto o público se colocou à volta, ou em cima do palco (como foi o meu caso). O concerto foi um exemplo brilhante do caldeirão de estilos que a banda domina: rock, jazz, blues, música Africana, chanson Francesa, parece que tudo cabe no espaço desta banda, que estava visivelmente a divertir-se tanto como a sua assistência. A única coisa menos feliz foi a duração: passados os 60 minutos regulamentares, Stef Kamil Carlens e companhia tiveram de arrumar o palco, apesar da insistência do público (e deles próprios) em continuar.
Para terminar a noite, que já estava de barriga cheia, ainda houve espaço para os tugas X-Wife. Também já os tinha visto "por alto" num festival qualquer, mas nitidamente funcionam melhor em espaços mais pequenos. Com muita energia e com todos os membros a darem o seu melhor, foi um bom concerto de rock muito profissional e a fechar de forma muito agradável uma grande noite. Os problemas que achei neste concerto, foram os mesmos que encontro nos seus discos: parecem ter alguma dificuldade em alterações de ritmo e o falsetto constante de João Vieira tornam-se um pouco cansativos ao final de 4 ou 5 temas. Uma maior junção de influências ainda os poderá tornar uma grande banda. Também aqui houve um convite à invasão de palco (pelos vistos está na moda), mas os seguranças não permitiram, tendo como vingança Fernando Sousa (o baixo) saltado para a plateia no último tema.
Conclusões
O formato deste festival é muito interessante: os espaços pequenos facilitam a proximidade entre o público e os músicos, resultando concertos potencialmente intimistas e únicos, e permite a vinda a Portugal de alguns artistas para os quais um concerto em nome próprio poderia não ser economicamente viável. Este formato poderia inclusivamente ser utilizado para fazer showcases regulares de grupos Portugueses, que muitas vezes passam praticamente despercebidos. Também parece que para o ano haverá mais, com alargamento a mais algumas salas. Veremos se o programa se mantém ao nível.
1 comentário:
Pelo que eu percebo, por ti, tinha sido Lykke logo (a)Li...
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