Estou tão farto de ver listas dos discos do ano que decidi que este ano não ia fazer a minha. Aliás, não vejo grande interesse em fazê-la, dado já vos ter falado de alguns dos meus discos favoritos durante os meses transactos. Se mesmo assim ainda não tiverem satisfeitos, recomendo um pulinho a
esta página do
Metacritic onde podem ver uma catrefada de listas, bem como um resumo muito útil (lá para o fundo) dos álbuns mais votados (se quiserem poupar tempo, adianto que os grandes "vencedores" do ano foram os Arctic Monkeys, a Joanna Newsom e os TV On The Radio). Não quero no entanto deixar ignorados um conjunto de discos que, ignorados tanto pelos mass media como pelo
me media, me proporcionaram consideráveis momentos de prazer durante o ano passado.
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Subtle - For Hero : For Fool
Penso que é a primeira vez que me vêm a recomendar um disco de Rap. Não tenho nada de especial contra o género, mas acho-o tendencialmente demasiado formulaico, repetitivo e maioritariamente feito por pessoas com nível cultural (no mínimo) duvidoso (não me vão dizer que o 50 Cent é um dos tipos mais inteligentes à face da terra, pois não?). Como em tudo, existem excepções, e estes Subtle, que são um spin-off dos Themselves, e que já tinham feito uma colaboração extraordinária com os Notwist sob a designação de 13 & God, são uma delas. Se é um facto que vocalmente a coisa só pode mesmo ser classificada como Rap, a voz anasalada e aguda de Doseone é muito fora de vulgar (para não lhe chamar mesmo estranha) e em termos musicais tocam instrumentos a sério e vão a todos os lados. Resultado: um dos discos mais inovativos e complexos do ano, em que é clara a intenção de pesquisa de novos caminhos para a música, mas com o óbvio sacrifício do nível de acessibilidade (apenas uma faixa - The Mercury Craze - tem uma estrutura aproximativamente normal). ( 4 / 5 )
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Justine Electra - Soft Rock
Este é um disco de estreia de uma Australiana radicada em Berlim, e segue na linha de convergência do pop/rock com o folk e a electrónica. Não sendo um disco excepcional, e apesar de se notar tendência para se levar a sério de mais, demonstra muito talento, e a Justine tem uma daquelas vozes que vicia, algures entre a Aimee Mann, a Liz Phair de início de carreira e as manas Casady normalmente conhecidas como CocoRosie. A produção simples e orgânica também lhe assenta muito bem. Portanto, um disquinho curioso sem nada de muito revolucionário, mas o facto é que se recusa a sair da playlist de novidades do meu iPod... (
3,5 / 5 )
Casiotone for the Painfully Alone - EtiquetteEstes Casiotone, são um daqueles projectos de uma pessoa só, neste caso um tal de Owen Ashworth, que se dedica a "dizer" os seus poemas de forma melancólica e lenta sobre música quase exclusivamente criada com instrumentos a pilhas (aqueles orgãos electrónicos que toda a gente queria ter quando eu era miúdo). Para este Etiquette, o autor decidiu quebrar um pouco o molde e incluir alguns instrumentos acústicos e os vocais de alguns amigos. Resultado: um verdadeiro paraíso de lo-fi em que conseguimos imaginar com toda a facilidade Owen (e companhia) com ar deprimido num apartamento cinzento e desarrumado em dia de chuva a fazer passar o tempo, com os seus dedos a tresandar a nicotina a carregar nas pequeninas teclas do brinquedo. Mais um disco que apesar de já ter saído em Março, não sai da minha playlist de novidades. (
4 / 5 )