Tal como as folhas das àrvores, os artistas musicais de que gosto têm para mim dois tipos: os caducos e os perenes. No primeiro grupo incluo todos os artistas dos quais posso ter gostado (em alguns casos fervorosamente) mas que ou acabaram (por morte ou cansaço) ou perderam a criatividade. Na realidade são muito poucos os artistas que considero terem ultrapassado a barreira dos 3 discos mesmo mesmo bons. Os perenes contam-se pelos dedos das mãos e mesmo quando fazem trabalhos menos bons, conseguem manter uma certa consistência. No fundo são aqueles artistas que fazem sempre aquilo que querem, e que se estão completamente marimbando para o que a crítica ou a moda possam dizer deles. Isto tudo para dizer que com este 7º disco, acho que a PJ entra definitivamente para este segundo grupo.
Em White Chalk, a PJ quebrou todas as expectativas que toda a gente poderia ter sobre a música dela. Pôs de parte a guitarra e o baixo e começou a aprender piano. Trocou o estilo vocal agressivo, por um novo mais próximo de um sussurro, o que a torna em alguns trechos quase irreconhecível. A minha primeira reacção foi de completa estranheza: como se nunca tivesse ouvido esta PJ e com dúvidas se a quereria ouvir... Mas as audições repetidas puseram em evidência a extrema beleza das composições. Reparem que não é propriamente um disco fácil: o tom é árido e melancólico, não se encontra um só gota de esperança ou alegria, no fundo um sério candidato à lista dos discos mais deprimentes de sempre (obviamente encabeçada pelo Berlin do perene Lou Reed).
Este disco é acima de tudo uma demonstração de coragem! A coragem de se estar a lixar para o que o mercado ou os fãs possam querer, e de fazer aquilo que apetece. Nos nossos dias isto é muito raro e vem plenamente justificar o entusiasmo que senti (e tentei transmitir sem grande sucesso) quando da descoberta do Dry em 1992. Pode nem ser o meu disco favorito da autora, mas é sem sombra de dúvida um grande disco. ( 4,5 / 5 )