Os doentes de BD / comics como eu, passam (ou passaram algures no tempo) por um ritual mensal a que se chama a consulta da Previews. E o que é essa coisa de que falo? É um catálogo publicado pela Diamond (empresa que tem praticamente o monopólio da distribuição de comics) com todas as publicações que vão sair nos EUA dali a 3 meses. É uma coisa pequenina, com umas 500 páginas e onde se pode encontrar literalmente milhares de livros, brinquedos, etc, em que gastar o nosso ordenado antecipadamente. É lógico que, com tanta escolha e com tanto lixo pelo meio, o apreciador mediano não pode fugir muito daquilo que já conhece ou ouviu falar. Mas o facto é que algumas escolhas fora da norma, podem-nos fazer descobrir autores novos e originais, e quando se acerta, a coisa consegue ser extremamente gratificante.
Este Blessed Thistle é precisamente um desses casos. Editado pela Dark Horse, escrito e desenhado por Steve Morris, vencedor do concurso para novos recrutas da editora em 2005, foi um verdadeiro tiro no escuro da minha parte, dado não dispor de mais nenhuma opinião / informação (para além da imagem da capa acima reproduzida), quando pus a cruz virtual à frente do título. O livro conta um conjunto de histórias interligadas por uma personagem comum, e usando um mecanismo narrativo muito interessante, em que as histórias são interrompidas a meio para iniciar uma nova, sendo retomadas posteriormente em ordem inversa (o melhor exemplo desta técnica que li até hoje é o Cloud Atlas do David Mitchell que não posso deixar de recomendar a quem ainda não leu). Mas não se assustem pelo aspecto surrealista e assustador da capa, as histórias estão firmemente assentes na realidade (iria quase ao ponto de lhe chamar mundanidade), e têm como temática comum o mal que o homem consegue fazer à própria raça sem nenhum motivo particular, mesmo no mais comum dos cenários. Não só está muito bem escrito, como a arte já tem um estilo muito próprio e original (mais próximo da escola Europeia), com um trabalho ao nível da cor absolutamente brilhante.
A cereja no topo do bolo é ainda uma pequena história de 4 páginas que se encontra no final do livro (parece que ainda havia espaço), intitulada Your Hot Ash in My Eye, e que nos apresenta o ciclo da biologia empresarial, ilustrada ao melhor estilo cubista, e que me deixou praticamente à gargalhada pelo cinismo (e pela verdade) com que representa o vampirismo da empresa face ao empregado. Definitivamente mais um autor a seguir...
25 março, 2007
Filme : Babel
Eu sei que vou atrasado, mas o sacana do Iñárritu, levou-me pela terceira vez consecutiva... Tenho que concordar com algumas das criticas feitas ao filme: é mais linear e mais calculista do que os anteriores, tem alguma tendência para o simbolismo básico, o argumento tem alguns pontos pouco convincentes, tem uma provável pretensão paternalista de mostrar o mundo como ele é aos Americanos. Mas tudo o resto me fez esquecer estes pontos: a fotografia e realização assombrosas, interpretações excepcionais (e não estou apenas a falar dos actores "famosos"), a música triste e bela... Resumindo, e apesar da manipulação emocional (não ao nível do Lars Von Trier mas nitidamente existente) foi o filme que me tocou mais nos últimos tempos (provavelmente desde o 21 Gramas) e por isso merece todos os meus elogios...
Com este filme encerra-se a "trilogia da morte" motivada (até certo ponto) pelas tragédias pessoais do realizador, o qual confirma a permanência na minha short list de gente a seguir fervorosamente. Fico muito curioso para saber por que caminhos deste mundo me irá levar a seguir... ( 4,5 / 5 )
08 março, 2007
Livro : Piercing (Ryu Murakami)
Como penso que acontecerá com grande parte dos leitores regulares, as minhas primeiras leituras dedicaram-se àquilo a que normalmente se chama "literatura de género". Comecei com a Ficção Cientifica e tive uma fase posterior, lá para os meus 20 anos, em que me dediquei a um subgénero dentro do Policial: os psicopatas (o policial de investigação nunca me cativou por aí além). A atracção pelo dark side era portanto bastante grande no jovem Bruno. Com o tempo, aprendi a gostar de outras coisas nos meus livros, mas há alguns autores de género que ainda sigo. Na ficção cientifica há os obrigatórios William Gibson e Neal Stephenson, nos psicopatas o Thomas Harris (actualmente reduzido à categoria de guilty pleasure) e o Michael Marshall.
Com a curiosidade recentemente obtida pela literatura japonesa, vim a descobrir este senhor (que não é o mesmo Murakami de que falava há alguns dias) através de um livrinho chamado In The Miso Soup, e que, a avaliar por esta nova experiência, parece ser um sério candidato para inclusão no segundo grupo. É daqueles livros em que quanto menos se souber melhor, mas digamos que o ponto de partida, é um designer gráfico de elevado sucesso, com um casamento feliz e uma criança recém nascida. Enfim, uma vida quase perfeita e dentro da normalidade. Só que o rapaz tem um dark side ainda maior do que o meu, e todas as noites, quando toda a família dorme, põe-se de ice-pick na mão a observar a sua filha no berço e a interrogar-se se será capaz de o utilizar.
É um pequeno livro que se lê de uma penada e que está muito bem feito, com personagens credíveis a nível psicológico (por incrível que possa parecer pela sinopse acima), mais voltas e contra-voltas do que o argumento de Hollywood standard, e um final com espaço para a reflexão, como só os japoneses sabem fazer... Esperançosamente alguém que trabalhe numa editora nacional (Olá Teresa!) irá descobrir esta pérola negra e tratar de a editar por cá. Até lá, os muito curiosos podem sempre recorrer à importação.
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