11 dezembro, 2006
Disco : Acoustic Ladyland - Skinny Grin
Numa altura em que toda a gente está a fechar as listas do melhor do ano, em que os escaparates estão mais virados para a colectânea para vender, do que nos albuns originais, apareceu este disquito para obrigar a malta mais atenta a alterar a lista. Depois do Cabaret Punk dos Dresden Dolls e do Gipsy Punk dos Gogol Bordello, vejo-me agora completamente viciado nestes tipos que praticam uma música que só pode ser classificada de Jazz Punk. Os mais incautos poderão pensar que eu sou um viciado em Punk à procura de todas as possíveis permutações do género, mas na realidade eu sou é fanatico das ditas permutações, ou seja, cada vez gosto menos dos "estilos" puros, e mais dos resultados obtidos com a mistura dos sons de maior disparidade possível. O facto de todos terem o punk à mistura, não é mais que uma pura coincidência.
Atacando então o motivo deste texto, e apesar de este já ser o terceiro disco da banda (o 2º - Last Chance Disco - também é imensamente recomendável), a informação que pude encontrar é muito reduzida, e a misteriosa (para não usar um adjectivo feio) página oficial não ajuda nada. Sei que o baterista também é membro dos Polar Bear e pelo sotaque dos vocais diria que são Ingleses, mas também pouco importa, porque a lingua que falam é a da música, e soam a algo que garantidamente nunca ouviram antes: post-punk (por vezes quase heavy metal) tocado com saxofone como instrumento principal, em vez da habitual guitarra. É logico que não poderão deixar de ter referências, afinal nenhum músico trabalha no vacuo, e por aqui se houvem traços de Coltrane e Morphine nas faixas mais calmas (que não são muitas).
O resultado é altamente motivante e entusiasmante, apesar de por vezes de difícil digestão (i.e. - não é propriamente easy listening), e deve ser ouvido por toda a gente que gosta que a sua música soe diferente. Felizmente ainda não publiquei (nem fiz) a minha lista de melhor do ano, porque se o tivesse feito, teria necessariamente de a alterar para incluir mais este, lá para os lugares cimeiros. ( 4,5 / 5 )
06 dezembro, 2006
BD : Pride of Baghdad
Baseado numa história real sobre um grupo de leões que escapou do zoo de Baghdad durante os bombardeamentos Americanos de recente e triste memória, este Pride of Baghdad é uma fábula / parabula em que os animais falam uns com os outros na melhor tradição de La Fontaine. Escrito pelo grande Brian K. Vaughan (Y: The Last Man, Ex Machina, etc.) e ilustrado por um brilhante quase-estreante Niko Henrichon, foi editado há uns dois meses em formato de hardcover pela Vertigo (o imprint adulto da DC de que sou quase religiosamente fanático).
A história é triste e de uma simplicidade extrema, mas essa simplicidade só amplia o seu impacto. O desenho de Henrichon é de uma beleza fora do vulgar e assenta na história como uma pluma. A única coisa de negativo que tenho a dizer é que é curto. As personagens estão tão bem pensadas e caracterizadas que gostaria de passar mais algum tempo com elas...
Esta é simplesmente a melhor BD que li este ano, e recomendo-a a toda a gente. Esperemos que alguém por estas paragens faça uma edição como deve de ser...
05 novembro, 2006
Série : Heroes
Não é meu habito falar por aqui das "séries da moda". Confesso ter seguido duas séries religiosamente nos últimos tempos (6 ft under e 24), mas em relação às restantes, tenho tendência a perder o interesse ao fim de pouco tempo... No entanto esta Heroes parece-me diferente, e tem culto escrito por todo o lado...
A premissa é muito simples: um conjunto de pessoas normais e afastadas geograficamente começa a ganhar poderes extraordinários sem se saber porquê, ficando claro muito cedo que o objectivo destes poderes é salvar o mundo. Nada de particularmente original por aqui, argumento de BD de super-heróis no seu mais básico, no entanto com o desenrolar da série a coisa ganha tematicas bastante mais adultas, com sexo e violência a pontuarem, e nitidamente a fugir um pouco à template... As personagens são bastante interessantes: uma cheerleader à prova de tudo, um estudante japonês capaz de manipular o plano espaço temporal, um politico capaz de voar, um pintor que vê o futuro quando se droga e que o passa para a tela, um polícia capaz de ler pensamentos, uma mãe de família com uma versão má atrás do espelho (que por vezes assume o controlo), e o mais curioso é que nem todas são moralmente correctas...
E depois tem um "não sei quê" que me parece faltar a todos os filmes de super-heróis que vi até hoje (e atenção que eu gosto de livros de super-heróis) e que é aquele pózinho que nos deixa maravilhados quando algo de inesperado acontece. Ao 6º episodio a coisa está muito misteriosa, e é com algum sufrimento que aguardo os novos capitulos... Tenho a perfeita convicção que a qualquer momento a coisa pode descarilar e deixar de ter qualquer espécie de nexo, mas até lá a viagem está a valer a pena...
A premissa é muito simples: um conjunto de pessoas normais e afastadas geograficamente começa a ganhar poderes extraordinários sem se saber porquê, ficando claro muito cedo que o objectivo destes poderes é salvar o mundo. Nada de particularmente original por aqui, argumento de BD de super-heróis no seu mais básico, no entanto com o desenrolar da série a coisa ganha tematicas bastante mais adultas, com sexo e violência a pontuarem, e nitidamente a fugir um pouco à template... As personagens são bastante interessantes: uma cheerleader à prova de tudo, um estudante japonês capaz de manipular o plano espaço temporal, um politico capaz de voar, um pintor que vê o futuro quando se droga e que o passa para a tela, um polícia capaz de ler pensamentos, uma mãe de família com uma versão má atrás do espelho (que por vezes assume o controlo), e o mais curioso é que nem todas são moralmente correctas...
E depois tem um "não sei quê" que me parece faltar a todos os filmes de super-heróis que vi até hoje (e atenção que eu gosto de livros de super-heróis) e que é aquele pózinho que nos deixa maravilhados quando algo de inesperado acontece. Ao 6º episodio a coisa está muito misteriosa, e é com algum sufrimento que aguardo os novos capitulos... Tenho a perfeita convicção que a qualquer momento a coisa pode descarilar e deixar de ter qualquer espécie de nexo, mas até lá a viagem está a valer a pena...
02 novembro, 2006
Disco : Metric - Live It Out
Pois é, acho que é a primeira vez que me vêm a recomendar um disco, sobre o qual a Pitchfork disse mal (4.2 em 10). Como devem compreender, isto é extremamente limitativo para mim, uma vez que não poderei limitar-me a traduzir / adaptar a critica deles para por aqui, como é meu hábito... Agradeço por isso que façam o esforço adicional necessário para perceberem o que raio tenho a dizer sobre o disquinho.
Estes Metric são produto das mentes de Emily Haines e James Shaw, Canadianos e membros dos Broken Social Scene (também gostava de saber que músico Canadiano nunca pertenceu a este colectivo). Este Live It Out é o segundo album de originais e, apesar de ter saído no seu país de origem há mais de um ano, só foi lançado na Europa em Julho do corrente. Chego portanto um pouco atrasado à recomendação, mas como dizia o profeta proveta: Mais vale tarde do que cedo... Também me parece perfeitamente justificável o atraso, dado este ser daqueles discos que passam totalmente despercebidos e que eu só decidi procurar por ter gostado do video do excelentississimo Monster Hospital quando passou na MTV2.
Deixando de parte a filosofia e pegando o touro pelos cornos, devo dizer que concordo até certo ponto com a Pitchfork, porque de facto não consigo identificar o que o disco tem de especial. Eu diria que é daqueles discos que, apesar de esteticamente próximo dos "independentes", consegue ter um toque algo comercial que o poderia tornar um sucesso (se alguém quisesse apostar na sua promoção), mas que por outro lado sacrifica qualquer possibilidade de ser bem visto pelos media da Intelligentia (como comprova a critica da Pitchfork). O som é basicamente rock com residuos de pop, a fazer lembrar algumas das minhas bandas favoritas do início dos anos 90 (leia-se Throwing Muses, Belly, etc.). Aliás, faz-me lembrar particularmente o The Real Ramona dos Throwing Muses no equilibrio que este apresentava entre as melodias pop da Tanya Donnelly e os riffs agressivos da Kristin Hersh.
Tendo algo de inovador ou não, o facto é que é o disco que mais tenho ouvido durante esta 2ª metade do ano, continuando a ter indubitável prazer a cada nova audição... Por esse motivo não posso deixar de recomendar a vossa descoberta, e esperar que um dia venham a fazer um disco verdadeiramente enorme. ( 4 / 5 )
31 outubro, 2006
Blog : Contraculturalmente
As minhas fãs que me perdoem, mas a aquisição de um novo PC transformou-me num zombie cheio de olheiras que passa as suas noites à frente de um belo monitor LCD de 19" a fazer uma das seguintes coisas:
- a tentar por a porra do router a funcionar como deve de ser;
- a tentar por o raio da firewall a funcionar como deve de ser;
- a tentar partilhar a porcaria da impressora na rede sem fios cá de casa;
- a tentar matar desconhecidos on-line num software para teenagers mentecaptos e com falta de interesse pela vida que dá pelo nome de F.E.A.R. Combat;
Com isto tudo não tenho lido livros, nem visto filmes e, apesar de continuar a ouvir alguma música, não tenho tempo para escrever sobre ela...
Para remediar a situação trago a excelente notícia de ter encontrado um blog feito por uma pessoa que não conheço, mas que só pode ser uma alma gémea: o Contraculturalmente... A coisa está muito bem feita e parece ser um bocadinho mais consistente do que eu, pelo facto de conseguir no mínimo recomendar um livro, uma BD, um disco (ou discografia) e um filme por mês. Ainda por cima tudo de culto que é para a malta se cultivar...
Vá, vão lá ver e não se esqueçam que continuo a ser vosso amigo e que em breve hei-de ter muitas recomendações para vos fazer...
19 setembro, 2006
Livros : Férias 2006
Como já devem ter depreendido por este meu silencio de mais de um mês, estive de férias, e passei a semana que passou na tradicional "depressão de reinserção". Normalmente aproveito o meu maior periodo de férias para "desligar do mundo". Ou seja, não há cá DVDs, nem PCs, nem música nova... Os meus tempos livres pessoais e intransmissíves são assim dedicados à leitura, ao meu iPod e (muito raramente) à televisão...
Este ano, para não variar, aproveitei para ler uns quantos livros e, tendo gostado de tudo o que li, não li nada a que pudesse chamar uma obra-prima. Digamos que os autores repetentes apostam na continuidade sem grandes surpresas, e os novos não me convenceram totalmente... Curiosamente só ao escrever este post é que reparei que todos estes livros (tirando as BDs) têm como tema as relações familiares... Garanto-vos que foi puramente por acaso...
Os Suspeitos do Costume
The Bedroom Secrets of the Master Chefs
Irvine Welsh
Welsh é o autor do famoso Trainspotting que deu origem ao filme de Danny Boyle, e já em tempos disse maravilhas sobre os restantes livros deste homem... Este que é o seu primeiro livro em 4 anos (depois de Porno - a continuação do referido Trainspotting) não deixou de me desiludir um pouco, de tal forma segue a template delineada nas suas obras anteriores... Danny Skinner é um jovem inspector de higiene em Edimburgo, cínico e dado a todos os tipos de excessos, que anda a tentar descobrir a identidade do seu pai (o que a mãe ex-punk se recusa a revelar). No seu trabalho cruza o caminho de um tal Brian Kibby, tótó por natureza e coleccionador de modelos de comboios, por quem sente um ódio visceral desde o primeiro momento e sem saber muito bem porquê...
O livro está longe de ser mau. É possivelmente o mais acessível de Welsh, por ter uma escrita mais linear e utilizar menos o calão Escocês, e consegue ter uma certa resonância a tragédia Grega que não lhe fica nada mal. Mas como já disse, para quem já leu todos os livros do autor, surpreende muito pouco e, para estreantes, continuo a recomendar o demolidor Marabou Stork Nightmares...
Theft: a Love Story
Peter Carey
Este autor Australiano deveria dispensar apresentações para todas as pessoas que gostem de ler (apesar de muito pouco traduzido entre nós) dado já ter ganho o Booker duas vezes. Tenho acompanhado regularmente a sua bibliografia e gostei particularmente do seu livro anterior My Life as a Fake.
Theft conta-nos a história dos irmãos Bones: Butcher - pintor de profissão, e Hugh - sem profissão e ligeiramente autista, a partir do momento em que a sua vida pacata em New South Wales, é basculada irremediavelmente pelo aparecimento de uma tal de Marlene, numa noite de tempestade, levando os irmãos de Nova Iorque a Tóquio numa teia que envolve falsificação de quadros (ou talvez não)...
A história é interessante, sem ser particularmente original, mas Carey usa um dispositivo que a meu ver não funciona (ou se calhar só funciona para Australianos) ao alternar a narrativa na primeira pessoa entre os dois irmãos... O facto é que não me parece que os pontos de vista sejam suficientemente divergentes para se justificar este desdobramento, e as partes narradas pelo irmão atrasado, são de leitura bastante difícil, não só pelo calão, mas também pela forma de raciocinio da personagem. Mesmo assim o livro proporcionou-me uns momentos bem passados...
Impuretés
Philippe Djian
Penso que Djian é o autor Francês que sigo há mais tempo, na pratica desde que vi o célebre Betty Blue de Jean-Jacques Beineix (que já tem 20 anos e que me marcou muito na altura), baseado no seu romance 37º2 le matin. Desde aí, Djian tem publicado regularmente, tendo tido uma segunda parte de carreira investida pelo policial negro que não me motivou particularmente. O século XXI (e os seus 50 anos) parecem ter-lhe refrescado o espirito, e este já é o terceiro livro recente dele de que gosto bastante (depois de Ça, c'est un baiser e Frictions).
Impuretés coloca-nos no centro de uma familia atómica rica e desfeita: o pai autor famoso passado a drogado e actualmente dedicado à escrita de giões menores, a mãe actriz famosa com a carreira em queda e o alcoolismo a subir, a filha morta por afogamento oito meses antes do início do livro, e o filho mais novo, para muita gente suspeito da morte da irmã, que parece viver a vida num completo vazio sem objectivo. A acção desenrola-se numa colina, área residencial de moradias de ricos (quase condomínio fechado), em que todas as familias estão em auto-destruição, e sem sombra de esperança para encontrar a algo que se aproxime da felicidade. Um livro bastante negro, mas muito bem escrito e que recomendo a todas as pessoas que não tenham medo da depressão dos outros...
Novos Autores
The Motel Life
Willy Vlautin
Vlautin é o vocalista e compositor principal dos Richmond Fontaine, uma banda de alt-country desencantado, cujo último album intitulado The Fitzgerald foi bastante bem recebido pela critica (pessoalmente não delirei, mas não aprecio particularmente o estilo). As letras das músicas falam de vidas destroçadas e de solidão, e é este tema que passa para este pequeno livro extremamente belo (não só pelo texto, mas também pelas ilustrações).
The Motel Life conta-nos a vida de dois irmãos em fuga depois de um deles ter matado acidentalmente um rapaz que andava de bicicleta. Este deambular de motel em motel serve de pano de fundo para algumas viagens às suas memórias, e leva-nos a concluir que um azar nunca anda só...
O estilo da escrita é simples e poético, a fazer lembrar um pouco o Sam Shepard de Motel Chronicles, e permite-nos ter um elevado grau de empatia por estes irmãos sem destino e que, apesar de todo o azar que têm na vida, parecem nunca abandonar a esperança...
The Accidental
Ali Smith
Este livro foi bastante celebrado no final do ano passado dado ter sido shortlisted para o Booker prize e ter ganho o Whitbread. Mais uma familia atómica disfuncional e com dificuldades de comunicação incriveis, mas desta vez a forma de pensar de cada elemento e a forma como interagem é profundamente alterada pela presença de uma rapariga estranha chamada Amber.
Apesar de a história não ser muito original, a forma como está estruturada de forma pouco linear, e o virtuosismo da escrita ao adaptar-se ao ponto de vista de cada personagem, faz-me acreditar que a autora poderá vir a escrever grandes obras. Definitivamente a seguir, e este ainda por cima já está traduzido e editado por cá (pela Bico de Pena), e com o título "A Acidental".
Banda Desenhada
L'Enragé - Tome 2
Baru
Tenho seguido a obra de Baru de forma inconstante (ele também não publica muito), e no passado gostei particularmente de L'Autoroute du Soleil, a sua novela gráfica com dois amigos on the road... Este L'Enragé passa-se nos meandros do boxe profissional e permite-nos seguir a ascenção e queda de um campeão que veio do nada e se tornou numa estrela mediatica...
Se o ritmo do primeiro tomo me deixou muito satisfeito, este abranda e por esse motivo desiludio-me um pouco. Quanto ao desenho de Baru nada a apontar, é daqueles autores com um estilo inimitável e que é sempre um prazer re-encontrar... Pena que a história, apesar dos subtextos sobre a hipocrisia dos media, não esteja totalmente à altura.
Magasin Général - Marie
Loisel & Tripp
Loisel faz parte da minha lista de autores obrigatórios desde que li o seu La Quête de L'Oiseau du Temps, tendo também gostado muito da versão jubilatória que fez de Peter Pan.
Este é o primeiro volume de uma nova trilogia verdadeiramente a meias com Tripp (que eu desconhecia), e digo verdadeiramente, porque partilham responsabilidades tanto no argumento como no desenho. Passado numa aldeia algures no Quebeque nos anos 20, a história inicia com a morte do dono da única mercearia da vila, e segue de perto a sua viúva - a Marie do título.
No fundo é um livro sobre a vida de pessoas normais, que transmite na perfeição a alegria e o aconchego da família extendida de uma aldeia, e que penso que só será totalmente compreensível quando a trilogia estiver concluída. Se o desenho de Loisel já era excelente, os sombreados de Tripp parecem acrescentar-lhe profundidade, o que torna o desenho sumptuoso e perfeito para o ambiente pretendido. Gostei muito...
Rendez-Vous à Paris
Enki Bilal
Bilal dispensa apresentações para qualquer aficionado de BD, e eu junto-me de joelhos à longa fila de fãs que veneram o mestre. Este é o terceiro volume da trilogia iniciada em Le Sommeil du Monstre, e que misteriosamente passou a quadrilogia com a publicação deste volume.
Com este livro confirma-se a tendência já denotada no volume anterior (32 Decembre) para a abstracção. Se em relação ao desenho se pode considerar isso uma evolução para melhor, com o autor a trocar definitivamente o seu tracejado perfeccionista de outrora, por um estilo muito livre e próximo da pintura, em relação à história penso que não se pode dizer o mesmo. Não sei se estou a ficar estúpido com o avançar dos anos, mas isto parece fazer menos sentido a cada novo volume. Esperemos que o quarto seja mesmo o último e que permita encaixar as peças todas (ou pelo menos uma parte significativa). Definitivamente não é com este livro que devem descobrir o autor, mas se já conhecem e gostam, tenho a certeza que mesmo que eu disse-se que era um monte de esterco (que está muito longe de ser), não iam deixar de comprar...
Este ano, para não variar, aproveitei para ler uns quantos livros e, tendo gostado de tudo o que li, não li nada a que pudesse chamar uma obra-prima. Digamos que os autores repetentes apostam na continuidade sem grandes surpresas, e os novos não me convenceram totalmente... Curiosamente só ao escrever este post é que reparei que todos estes livros (tirando as BDs) têm como tema as relações familiares... Garanto-vos que foi puramente por acaso...
Os Suspeitos do Costume
The Bedroom Secrets of the Master Chefs
Irvine Welsh
Welsh é o autor do famoso Trainspotting que deu origem ao filme de Danny Boyle, e já em tempos disse maravilhas sobre os restantes livros deste homem... Este que é o seu primeiro livro em 4 anos (depois de Porno - a continuação do referido Trainspotting) não deixou de me desiludir um pouco, de tal forma segue a template delineada nas suas obras anteriores... Danny Skinner é um jovem inspector de higiene em Edimburgo, cínico e dado a todos os tipos de excessos, que anda a tentar descobrir a identidade do seu pai (o que a mãe ex-punk se recusa a revelar). No seu trabalho cruza o caminho de um tal Brian Kibby, tótó por natureza e coleccionador de modelos de comboios, por quem sente um ódio visceral desde o primeiro momento e sem saber muito bem porquê...
O livro está longe de ser mau. É possivelmente o mais acessível de Welsh, por ter uma escrita mais linear e utilizar menos o calão Escocês, e consegue ter uma certa resonância a tragédia Grega que não lhe fica nada mal. Mas como já disse, para quem já leu todos os livros do autor, surpreende muito pouco e, para estreantes, continuo a recomendar o demolidor Marabou Stork Nightmares...
Theft: a Love Story
Peter Carey
Este autor Australiano deveria dispensar apresentações para todas as pessoas que gostem de ler (apesar de muito pouco traduzido entre nós) dado já ter ganho o Booker duas vezes. Tenho acompanhado regularmente a sua bibliografia e gostei particularmente do seu livro anterior My Life as a Fake.
Theft conta-nos a história dos irmãos Bones: Butcher - pintor de profissão, e Hugh - sem profissão e ligeiramente autista, a partir do momento em que a sua vida pacata em New South Wales, é basculada irremediavelmente pelo aparecimento de uma tal de Marlene, numa noite de tempestade, levando os irmãos de Nova Iorque a Tóquio numa teia que envolve falsificação de quadros (ou talvez não)...
A história é interessante, sem ser particularmente original, mas Carey usa um dispositivo que a meu ver não funciona (ou se calhar só funciona para Australianos) ao alternar a narrativa na primeira pessoa entre os dois irmãos... O facto é que não me parece que os pontos de vista sejam suficientemente divergentes para se justificar este desdobramento, e as partes narradas pelo irmão atrasado, são de leitura bastante difícil, não só pelo calão, mas também pela forma de raciocinio da personagem. Mesmo assim o livro proporcionou-me uns momentos bem passados...
Impuretés
Philippe Djian
Penso que Djian é o autor Francês que sigo há mais tempo, na pratica desde que vi o célebre Betty Blue de Jean-Jacques Beineix (que já tem 20 anos e que me marcou muito na altura), baseado no seu romance 37º2 le matin. Desde aí, Djian tem publicado regularmente, tendo tido uma segunda parte de carreira investida pelo policial negro que não me motivou particularmente. O século XXI (e os seus 50 anos) parecem ter-lhe refrescado o espirito, e este já é o terceiro livro recente dele de que gosto bastante (depois de Ça, c'est un baiser e Frictions).
Impuretés coloca-nos no centro de uma familia atómica rica e desfeita: o pai autor famoso passado a drogado e actualmente dedicado à escrita de giões menores, a mãe actriz famosa com a carreira em queda e o alcoolismo a subir, a filha morta por afogamento oito meses antes do início do livro, e o filho mais novo, para muita gente suspeito da morte da irmã, que parece viver a vida num completo vazio sem objectivo. A acção desenrola-se numa colina, área residencial de moradias de ricos (quase condomínio fechado), em que todas as familias estão em auto-destruição, e sem sombra de esperança para encontrar a algo que se aproxime da felicidade. Um livro bastante negro, mas muito bem escrito e que recomendo a todas as pessoas que não tenham medo da depressão dos outros...
Novos Autores
The Motel Life
Willy Vlautin
Vlautin é o vocalista e compositor principal dos Richmond Fontaine, uma banda de alt-country desencantado, cujo último album intitulado The Fitzgerald foi bastante bem recebido pela critica (pessoalmente não delirei, mas não aprecio particularmente o estilo). As letras das músicas falam de vidas destroçadas e de solidão, e é este tema que passa para este pequeno livro extremamente belo (não só pelo texto, mas também pelas ilustrações).
The Motel Life conta-nos a vida de dois irmãos em fuga depois de um deles ter matado acidentalmente um rapaz que andava de bicicleta. Este deambular de motel em motel serve de pano de fundo para algumas viagens às suas memórias, e leva-nos a concluir que um azar nunca anda só...
O estilo da escrita é simples e poético, a fazer lembrar um pouco o Sam Shepard de Motel Chronicles, e permite-nos ter um elevado grau de empatia por estes irmãos sem destino e que, apesar de todo o azar que têm na vida, parecem nunca abandonar a esperança...
The Accidental
Ali Smith
Este livro foi bastante celebrado no final do ano passado dado ter sido shortlisted para o Booker prize e ter ganho o Whitbread. Mais uma familia atómica disfuncional e com dificuldades de comunicação incriveis, mas desta vez a forma de pensar de cada elemento e a forma como interagem é profundamente alterada pela presença de uma rapariga estranha chamada Amber.
Apesar de a história não ser muito original, a forma como está estruturada de forma pouco linear, e o virtuosismo da escrita ao adaptar-se ao ponto de vista de cada personagem, faz-me acreditar que a autora poderá vir a escrever grandes obras. Definitivamente a seguir, e este ainda por cima já está traduzido e editado por cá (pela Bico de Pena), e com o título "A Acidental".
Banda Desenhada
L'Enragé - Tome 2
Baru
Tenho seguido a obra de Baru de forma inconstante (ele também não publica muito), e no passado gostei particularmente de L'Autoroute du Soleil, a sua novela gráfica com dois amigos on the road... Este L'Enragé passa-se nos meandros do boxe profissional e permite-nos seguir a ascenção e queda de um campeão que veio do nada e se tornou numa estrela mediatica...
Se o ritmo do primeiro tomo me deixou muito satisfeito, este abranda e por esse motivo desiludio-me um pouco. Quanto ao desenho de Baru nada a apontar, é daqueles autores com um estilo inimitável e que é sempre um prazer re-encontrar... Pena que a história, apesar dos subtextos sobre a hipocrisia dos media, não esteja totalmente à altura.
Magasin Général - Marie
Loisel & Tripp
Loisel faz parte da minha lista de autores obrigatórios desde que li o seu La Quête de L'Oiseau du Temps, tendo também gostado muito da versão jubilatória que fez de Peter Pan.
Este é o primeiro volume de uma nova trilogia verdadeiramente a meias com Tripp (que eu desconhecia), e digo verdadeiramente, porque partilham responsabilidades tanto no argumento como no desenho. Passado numa aldeia algures no Quebeque nos anos 20, a história inicia com a morte do dono da única mercearia da vila, e segue de perto a sua viúva - a Marie do título.
No fundo é um livro sobre a vida de pessoas normais, que transmite na perfeição a alegria e o aconchego da família extendida de uma aldeia, e que penso que só será totalmente compreensível quando a trilogia estiver concluída. Se o desenho de Loisel já era excelente, os sombreados de Tripp parecem acrescentar-lhe profundidade, o que torna o desenho sumptuoso e perfeito para o ambiente pretendido. Gostei muito...
Rendez-Vous à Paris
Enki Bilal
Bilal dispensa apresentações para qualquer aficionado de BD, e eu junto-me de joelhos à longa fila de fãs que veneram o mestre. Este é o terceiro volume da trilogia iniciada em Le Sommeil du Monstre, e que misteriosamente passou a quadrilogia com a publicação deste volume.
Com este livro confirma-se a tendência já denotada no volume anterior (32 Decembre) para a abstracção. Se em relação ao desenho se pode considerar isso uma evolução para melhor, com o autor a trocar definitivamente o seu tracejado perfeccionista de outrora, por um estilo muito livre e próximo da pintura, em relação à história penso que não se pode dizer o mesmo. Não sei se estou a ficar estúpido com o avançar dos anos, mas isto parece fazer menos sentido a cada novo volume. Esperemos que o quarto seja mesmo o último e que permita encaixar as peças todas (ou pelo menos uma parte significativa). Definitivamente não é com este livro que devem descobrir o autor, mas se já conhecem e gostam, tenho a certeza que mesmo que eu disse-se que era um monte de esterco (que está muito longe de ser), não iam deixar de comprar...
11 agosto, 2006
Livro : Tourism (Nirpal Singh Dhaliwal)
Mais um pequeno livro que me seduziu na Borders de Oxford St. (e admito que com esta capa é fácil de ser seduzido), e que apresenta um autor com bastante potencial.
A personagem principal, um tal de Bhupinder 'Puppy' Singh Johal, é um descendente de Indianos jeitoso, cínico e com poucos principios que abandona o bairro de imigrantes onde foi criado (Southall) para se misturar com a elite da sociedade de Londres. Por elite leia-se a malta da massa, as modelos, etc. A falta de objectivos e interesse profissional na sua vida é constante (escreve umas "críticas" de música para as quais se limita a transcrever os press releases) e vive a vida de forma bastante hedonistica (sex & drugs & vegie curry), à custa da namorada, uma modelo loira (em todos os sentidos) e Inglesa de gema, a qual não ama.
Nitidamente bastante autobiografico, a escrita é bem fluida e tão honesta na observação da interacção entre raças, e na confusão do mundo em que vivemos, que por vezes me deixou desarmado (o que não é fácil), e penso que é neste ponto que poderão ter nascido as comparações com o Michel Houlebecq que por aí andam. Está longe de ser um livro perfeito, com um final bastante atabalhoado e a despachar (que se calhar era completamente desnecessário), mas o autor demonstra capacidades interessantes... Vejamos o que se segue...
09 agosto, 2006
Disco : The Guillemots - Through The Windowpane
Estes Guillemots são provenientes do Reino Unido, e liderados por um tal de Fyfe Dangerfield (um tipo magrinho e barbudo, habitualmente com boné enfiado na cabeça e sentado ao piano), que é o compositor principal e o vocalista (e não só tem boa voz, como a sabe utilizar). Os restantes membros são MC Lord Magrao (o Brazuca da guitarra), Greig Stewart (bateria) e Aristazabal Hawkes (a.k.a. a rapariga do contrabaixo). É mais que óbvio que estes nomes são provavelmente inventados, mas a música que fazem, essa, é bem real.
Este é um daqueles discos (para mim) muito dificeis de classificar, tal a abrangência de estilos não só entre músicas, como dentro de cada uma delas. Os media em geral têm tendência a enfiá-los no saquinho indie-pop, lá para os lados dos horriveis Coldplay e dos abomináveis Keane. É verdade que por vezes me fazem lembrar a pop perfeita e com classe que uns Aztec Camera ou uns Prefab Sprout faziam em meados dos anos 80, mas nesses discos não havia lugar para a melancolia de um Blue Would Still Be Blue com os vocais quase a capella (acompanhamento por uma garrafa de vinho tinto segunda rezam as liner notes) a fazerem lembrar os melhores momentos do defunto Jeff Buckley. Juntem influências tão dispares como jazz, samba, música electrónica (tocada com instrumentos reais), música clássica, e já poderão levantar uma pontinha do véu sobre o que vos espera. As audições repetidas só fazem melhorar a percepção da coisa, ao descobrir a quantidade de pequenos pormenores que foram incluidos nas músicas.
Momentos altos não faltam: o single Made Up Love Song #43 é o arquétipo de canção de amor com uma elevada dose de loucura à mistura (quando lhe perguntaram o porquê do número 43 Fyfe respondeu simplesmente que as primeiras 42 canções de amor que escreveu eram uma trampa), Annie Let's Not Wait que começa como se fosse uma canção pop pimba e acaba em batuques monumentais numa favela do Rio, e os derradeiros 12 minutos de Sao Paulo que começa com um saxofonista de esquina e que até chegar ao final (a misturar Mussorgsky com Gershwin) consegue enfiar uma meia dúzia de canções diferentes pelo meio, são apenas alguns dos meus favoritos...
Through the Windowpane, é mesmo o que o nome indica, uma janela para o mundo com momentos mais felizes a equilibrar os mais tristes, e a misturar todos os géneros como se não existissem quaisquer barreiras. Este vai directamente para a lista dos melhores do ano e só não leva nota máxima por causa de um ou dois temas em que o objectivo de misturar estilos parece ter deixado de fora o brilhantismo das restantes composições. ( 4,5 / 5 )
Este é um daqueles discos (para mim) muito dificeis de classificar, tal a abrangência de estilos não só entre músicas, como dentro de cada uma delas. Os media em geral têm tendência a enfiá-los no saquinho indie-pop, lá para os lados dos horriveis Coldplay e dos abomináveis Keane. É verdade que por vezes me fazem lembrar a pop perfeita e com classe que uns Aztec Camera ou uns Prefab Sprout faziam em meados dos anos 80, mas nesses discos não havia lugar para a melancolia de um Blue Would Still Be Blue com os vocais quase a capella (acompanhamento por uma garrafa de vinho tinto segunda rezam as liner notes) a fazerem lembrar os melhores momentos do defunto Jeff Buckley. Juntem influências tão dispares como jazz, samba, música electrónica (tocada com instrumentos reais), música clássica, e já poderão levantar uma pontinha do véu sobre o que vos espera. As audições repetidas só fazem melhorar a percepção da coisa, ao descobrir a quantidade de pequenos pormenores que foram incluidos nas músicas.
Momentos altos não faltam: o single Made Up Love Song #43 é o arquétipo de canção de amor com uma elevada dose de loucura à mistura (quando lhe perguntaram o porquê do número 43 Fyfe respondeu simplesmente que as primeiras 42 canções de amor que escreveu eram uma trampa), Annie Let's Not Wait que começa como se fosse uma canção pop pimba e acaba em batuques monumentais numa favela do Rio, e os derradeiros 12 minutos de Sao Paulo que começa com um saxofonista de esquina e que até chegar ao final (a misturar Mussorgsky com Gershwin) consegue enfiar uma meia dúzia de canções diferentes pelo meio, são apenas alguns dos meus favoritos...
Through the Windowpane, é mesmo o que o nome indica, uma janela para o mundo com momentos mais felizes a equilibrar os mais tristes, e a misturar todos os géneros como se não existissem quaisquer barreiras. Este vai directamente para a lista dos melhores do ano e só não leva nota máxima por causa de um ou dois temas em que o objectivo de misturar estilos parece ter deixado de fora o brilhantismo das restantes composições. ( 4,5 / 5 )
20 julho, 2006
Livro : The Night Buffalo (Guillermo Arriaga)
Depois de ter passado quase dois meses a ler o The Wind-up Bird Chronicle do Haruki Murakami, que é considerado a sua obra-prima, mas que eu achei muito denso e menos satisfatório do que o Kafka on the Shore (que já foi entretanto editado entre nós), foi de uma penada que li este pequeno livro que encontrei na minha viagem a Londres.
Para os mais desatentos, Guillermo Arriaga é o argumentista Mexicano responsável por três grandes filmes: Amores Perros, 21 Gramas e The Three Burials of Melquiades Estrada. Também foi ele que escreveu o argumento do novo do Iñarritu (Babel) e este Night Buffalo também já está a ser adaptado ao cinema.
Sendo uma obra bastante mais linear do que os seus outros argumentos, permanece o tema claramente favorito de Arriaga do efeito da morte de outrem sobre quem por cá fica. Neste caso sobre os outros dois lados de um triangulo amoroso. A escrita é simples mas poética e para não variar as personagens são exemplos perfeitos da humanidade em toda a sua complexidade e confusão. Resumindo, um livro de leitura fácil com temática complexa que não posso deixar de recomendar...
30 junho, 2006
Discos : Vêm aí os Russos!
Depois das desilusões das novidades rock do 2º trimestre de 2006, começei ainda mais intensamente a procurar coisas diferentes para ouvir, e eis que de repente me deparo com 3 discos de influência ou origem russa que não paro de ouvir... Será coincidência, ou será o início da guerra fria na música?
Gogol Bordello - Gypsy Punks
Já aqui tinha feito uma referência aos Gogol Bordello quando da análise do filme Everything is Illuminated de Liev Schreiber... É que o moço que basicamente injecta o filme de humor é um tal de Eugene Hutz, vocalista destes Gogois... Basicamente Hutz (originário da Ucrânia) é um daqueles tipos que não pára: para além desta banda, é famoso pelos seus DJ sets técnicamente débeis em que mistura todos os tipos de música e põe toda a gente em festa, e ainda consegue arranjar tempo para andar um pouco por todo o mundo a descobrir / colaborar com outros músicos.
Pela investigação que fiz os concertos são momentos verdadeiramente épicos em que a banda (bastante numerosa) enche qualquer palco, as lotações excedem a lotação, e terminam invariavelmente com suor a pingar do tecto como se estivesse a chover... Por razões óbvias, nunca tive oportunidade de os ver, mas este disco abre sem dúvida o apetite para tal espetáculo... O título reflete correctamente o conteúdo, estamos perante uma mistura perfeita da música cigana da região das Balcãs (pensem na música e na confusão dos filmes do Emir Kusturica) com o melhor que as várias facções do Punk nos ofereceram ao longo dos anos. O resultado é um disco perfeito para acompanhar festas bastante inebriadas, mas que fora de tal ambiente é suficiente para uma pessoa ficar imediatamente mais bem disposta ou mesmo excitada (que é o caso da minha Maria sempre que ponho a faixa Start Wearing Purple a tocar no carro)... E para além do efeito novidade, nota-se que todos os intervenientes para além de serem excelentes músicas, já se integram admiravelmente uns com os outros. ( 4,5 / 5 )
Beirut - Gulag Orkestar
Apesar de soar a uma orquestra dos Balcãs, daquelas com acordeões, violinos, trompete, triangulos e pandeiretas, na realidade o seu autor, que dá pelo nome de Zach Condon, tem muito pouco de Russo. É um jovem de 19 anos de Albuquerque que escreveu este belo disco após uns tempos à deriva pela "velha" Europa.
Para além da óbvia capacidade de composição, Zach tem uma voz que se parece adaptar com facilidade a qualquer tipo de música, e o àlbum não se fica apenas pelo "folklore", indo buscar influências adicionais ao México, a França (o acordeão de Mount Wroclai podia ter saído de um disco do Yann Tiersen) à synth-pop dos anos 80 e até à New Wave (o tom de voz faz lembrar um pouco o David Byrne do início dos Talking Heads).
Está longe de ser um disco perfeito, penso que uma produção mais "limpinha" com os instrumentos mais distintos e a voz mais nitida ficaria melhor, mas o som lo-fi deve ter sido uma opção estética intecional. Por outro lado, alguns temas têm tendência a repetir algumas ideias já apresentadas, o que poderá cançar algumas pessoas. Mas é sobretudo um excelente início de uma carreira de alguém estupidamente talentoso e que espero que venha a dar muito que falar... ( 4 / 5 )
Regina Spektor - Begin to Hope
De naturalidade Russa, filha de um violinista amador e de uma professora de música do conservatório, emigrou para o Bronx aos 9 anos. Descobri-a com o àlbum anterior (Soviet Kitsch de 2004) do qual já tinha gostado bastante, apesar da imaturidade visível. Este Begin to Hope vem confirmar os melhores prognósticos...
Integrada com muita facilidade na categoria de "Cantautora-tresloucada-ao-piano" onde já figuram Tori Amos e Fiona Apple (curiosamente também tenho todos os discos de ambas), Spektor consegue, principalmente neste disco, dispersar-se um bocado mais em termos estilisticos, abraçando estilos tão diversos como a pop, o rock, os blues e até o jazz. Tem uma daquelas vozes com "tiques" únicos que ou se adora ou se odeia e que, à semelhança do estilo das suas composições também se adapta a qualquer tipo de registo.
O resultado final é um disco variado tanto em estilo como em tom, e onde cada pessoa poderá com certeza encontrar as suas músicas favoritas. Pessoalmente deliro com o classissismo Russo de Aprés Moi, o rock a roçar o punk de That Time, e com a homenagem fumarenta a Billie Holliday que dá pelo nome de Lady. Independentemente do que possam ler noutras críticas (já vi criticas negativas em tom de "menino-a-fazer-birra" na nossa imprensa), este é um disco que têm que ouvir para saber se gostam... Eu adorei. ( 4,5 / 5 )
Gogol Bordello - Gypsy Punks
Já aqui tinha feito uma referência aos Gogol Bordello quando da análise do filme Everything is Illuminated de Liev Schreiber... É que o moço que basicamente injecta o filme de humor é um tal de Eugene Hutz, vocalista destes Gogois... Basicamente Hutz (originário da Ucrânia) é um daqueles tipos que não pára: para além desta banda, é famoso pelos seus DJ sets técnicamente débeis em que mistura todos os tipos de música e põe toda a gente em festa, e ainda consegue arranjar tempo para andar um pouco por todo o mundo a descobrir / colaborar com outros músicos.
Pela investigação que fiz os concertos são momentos verdadeiramente épicos em que a banda (bastante numerosa) enche qualquer palco, as lotações excedem a lotação, e terminam invariavelmente com suor a pingar do tecto como se estivesse a chover... Por razões óbvias, nunca tive oportunidade de os ver, mas este disco abre sem dúvida o apetite para tal espetáculo... O título reflete correctamente o conteúdo, estamos perante uma mistura perfeita da música cigana da região das Balcãs (pensem na música e na confusão dos filmes do Emir Kusturica) com o melhor que as várias facções do Punk nos ofereceram ao longo dos anos. O resultado é um disco perfeito para acompanhar festas bastante inebriadas, mas que fora de tal ambiente é suficiente para uma pessoa ficar imediatamente mais bem disposta ou mesmo excitada (que é o caso da minha Maria sempre que ponho a faixa Start Wearing Purple a tocar no carro)... E para além do efeito novidade, nota-se que todos os intervenientes para além de serem excelentes músicas, já se integram admiravelmente uns com os outros. ( 4,5 / 5 )
Beirut - Gulag Orkestar
Apesar de soar a uma orquestra dos Balcãs, daquelas com acordeões, violinos, trompete, triangulos e pandeiretas, na realidade o seu autor, que dá pelo nome de Zach Condon, tem muito pouco de Russo. É um jovem de 19 anos de Albuquerque que escreveu este belo disco após uns tempos à deriva pela "velha" Europa.
Para além da óbvia capacidade de composição, Zach tem uma voz que se parece adaptar com facilidade a qualquer tipo de música, e o àlbum não se fica apenas pelo "folklore", indo buscar influências adicionais ao México, a França (o acordeão de Mount Wroclai podia ter saído de um disco do Yann Tiersen) à synth-pop dos anos 80 e até à New Wave (o tom de voz faz lembrar um pouco o David Byrne do início dos Talking Heads).
Está longe de ser um disco perfeito, penso que uma produção mais "limpinha" com os instrumentos mais distintos e a voz mais nitida ficaria melhor, mas o som lo-fi deve ter sido uma opção estética intecional. Por outro lado, alguns temas têm tendência a repetir algumas ideias já apresentadas, o que poderá cançar algumas pessoas. Mas é sobretudo um excelente início de uma carreira de alguém estupidamente talentoso e que espero que venha a dar muito que falar... ( 4 / 5 )
Regina Spektor - Begin to Hope
De naturalidade Russa, filha de um violinista amador e de uma professora de música do conservatório, emigrou para o Bronx aos 9 anos. Descobri-a com o àlbum anterior (Soviet Kitsch de 2004) do qual já tinha gostado bastante, apesar da imaturidade visível. Este Begin to Hope vem confirmar os melhores prognósticos...
Integrada com muita facilidade na categoria de "Cantautora-tresloucada-ao-piano" onde já figuram Tori Amos e Fiona Apple (curiosamente também tenho todos os discos de ambas), Spektor consegue, principalmente neste disco, dispersar-se um bocado mais em termos estilisticos, abraçando estilos tão diversos como a pop, o rock, os blues e até o jazz. Tem uma daquelas vozes com "tiques" únicos que ou se adora ou se odeia e que, à semelhança do estilo das suas composições também se adapta a qualquer tipo de registo.
O resultado final é um disco variado tanto em estilo como em tom, e onde cada pessoa poderá com certeza encontrar as suas músicas favoritas. Pessoalmente deliro com o classissismo Russo de Aprés Moi, o rock a roçar o punk de That Time, e com a homenagem fumarenta a Billie Holliday que dá pelo nome de Lady. Independentemente do que possam ler noutras críticas (já vi criticas negativas em tom de "menino-a-fazer-birra" na nossa imprensa), este é um disco que têm que ouvir para saber se gostam... Eu adorei. ( 4,5 / 5 )
19 junho, 2006
Filme : Temporada de Patos
Vi no outro dia esta 1ª longa metragem do Mexicano Fernando Eimbcke, que foi uma excelente surpresa. É mais um daqueles filmes feitos por meia dúzia de trocos que vem provar que não é preciso criar argumentos conturbados e gastar rios de dinheiro em actores cabotinos e efeitos especiais para prender os espectadores e transmitir algo em termos emocionais...
Filmado a preto e branco, mostra-nos o Domingo de um par de miúdos de 14 anos que ficam sózinhos num apartamento a beber Coca-Cola, comer Pizza e jogar XBox... Mas como não poderia deixar de ser, os melhores planos saiem sempre furados... Recorrendo quase exclusivamente a um set (o apartamento) e a 5 actores com pouca experiência, a coisa funciona muitissimo bem e diverte sem estupidificar... A realização está cheia de pormenores inteligentes e também gostei muito da fotografia com o seu ligeiro toque de baço... Penso que temos mais um realizador a somar aos mexicanos brilhantes que têm aparecido nos últimos tempos (González Iñárritu e Alfonso Cuarón) faltando apenas provar com a continuidade da obra.
Passou pelo Indie Lisboa de 2005 e teve direito a estreia em sala por cá e lembro-me na altura de ver posters na rua e tudo (o que é de espantar para um filme tão pouco comercial). Só agora com a saida iminente do DVD (a cargo da nossa amiga LNKaka - esperem portanto o pior) é que tive oportunidade de o ver, e não posso deixar de recomendar... ( 4 / 5 )
18 junho, 2006
Retrete III : Anti-nacionalismo em tempos de nacionalismo
Consigo facilmente imaginar os poucos leitores que me restam a sentirem-se completamente exasperados por este meu silêncio superior a um mês... Principalmente porque já me aconteceu o mesmo... Mas a coisa é facilmente justificável por um periodo em que não vi / li / ouvi nada de particularmente recomendável, seguido de uma semana fora do país para apresentar a alucinante cidade de Londres às minhas filhas (prova fotográfica acima... só falta o selo com a data e hora)...
Numa atitude de particular desrespeito pelo principal passatempo nacional e aparente única causa de orgulho e nacionalismo (vulgo "a bola"), parti no dia da estreia da nossa selecção, e regressei no dia do segundo jogo, pelo qual me deram os parabéns no balcão de check-in. Hoje sinto-me como se tivesse uma das piores ressacas da minha vida, apesar de apenas ter consumido durante o dia de ontem um pint de Guinness... Tudo me parece cinzento e desbotado e feio e em camara lenta... Onde estão as multidões multiraciais e multitribais de Oxford Street e Piccadilly Circus e Candem? Onde é que eu vou para conseguir um Espresso Frapuccino? Onde é que é a Virgin / HMV / Borders mais próxima? Olha... por cá tens a FNARC e estás cheio de sorte...
Enfim... Nunca me senti tão atraído pela emigração... Até porque por lá se vêm muito mais bandeiras nas janelas e nos carros do que cá...
P.S. - A inclusão da capa do novo dos The Divine Comedy na foto não é intencional, até porque o disco foi uma tremenda desilusão da qual só consigo gostar de uma faixa (Lady Of A Certain Age)... O resto parece redefinir o significado da palavra pedante...
Numa atitude de particular desrespeito pelo principal passatempo nacional e aparente única causa de orgulho e nacionalismo (vulgo "a bola"), parti no dia da estreia da nossa selecção, e regressei no dia do segundo jogo, pelo qual me deram os parabéns no balcão de check-in. Hoje sinto-me como se tivesse uma das piores ressacas da minha vida, apesar de apenas ter consumido durante o dia de ontem um pint de Guinness... Tudo me parece cinzento e desbotado e feio e em camara lenta... Onde estão as multidões multiraciais e multitribais de Oxford Street e Piccadilly Circus e Candem? Onde é que eu vou para conseguir um Espresso Frapuccino? Onde é que é a Virgin / HMV / Borders mais próxima? Olha... por cá tens a FNARC e estás cheio de sorte...
Enfim... Nunca me senti tão atraído pela emigração... Até porque por lá se vêm muito mais bandeiras nas janelas e nos carros do que cá...
P.S. - A inclusão da capa do novo dos The Divine Comedy na foto não é intencional, até porque o disco foi uma tremenda desilusão da qual só consigo gostar de uma faixa (Lady Of A Certain Age)... O resto parece redefinir o significado da palavra pedante...
16 maio, 2006
Disco : Gnarls Barkley - St. Elsewhere
Muito badalado nos media da estranja dado Crazy, o primeiro tema extraído deste àlbum, ter sido o 1º single apenas disponível para download a chegar ao topo da tabela de vendas da Grã-Bretanha, por cá a coisa parece estar a passar um pouco ao lado. Ainda não o consegui encontrar em lado nenhum para legalizar os meus mp3, e a imprensa também não me parece andar a dar o destaque merecido...
Sendo o novo projecto de Danger Mouse (o moço responsável pelo Grey Album - mash-up do White Album dos Beatles com o Black Album do Jay-Z - e produtor / co-autor de Demon Days - o 2º album dos Gorillaz) aqui acompanhado por Cee-Lo Green (Goodie Mob), este St. Elsewhere é daqueles discos que vai a muitos sitios em muito pouco tempo... A mistura de hip-hop, soul, gospel, pop e até rock (atente-se ao cover de Gone Daddy Gone dos Violente Femmes), em que a voz versátil de Cee-Lo funciona na perfeição, resulta num disco variado e que vai melhorando a cada audição.
Na realidade, eu até queria não gostar disto, dado o hype todo que por aí anda, mas à 3ª audição o tal do Crazy entrou, e o album, apesar de só estar à altura em mais 2 ou 3 pontos (Just a Thought e Boogie Monster), não tem uma única música fraca. A ouvir sem preconceitos... ( 4 / 5 )
Sendo o novo projecto de Danger Mouse (o moço responsável pelo Grey Album - mash-up do White Album dos Beatles com o Black Album do Jay-Z - e produtor / co-autor de Demon Days - o 2º album dos Gorillaz) aqui acompanhado por Cee-Lo Green (Goodie Mob), este St. Elsewhere é daqueles discos que vai a muitos sitios em muito pouco tempo... A mistura de hip-hop, soul, gospel, pop e até rock (atente-se ao cover de Gone Daddy Gone dos Violente Femmes), em que a voz versátil de Cee-Lo funciona na perfeição, resulta num disco variado e que vai melhorando a cada audição.
Na realidade, eu até queria não gostar disto, dado o hype todo que por aí anda, mas à 3ª audição o tal do Crazy entrou, e o album, apesar de só estar à altura em mais 2 ou 3 pontos (Just a Thought e Boogie Monster), não tem uma única música fraca. A ouvir sem preconceitos... ( 4 / 5 )
05 maio, 2006
Discos : Rockoólicos Anónimos
Durante este último mês tenho andado a ouvir vários discos que se podem integrar no estilo "rock", mas que, na sua grande maioria, não me encantam o suficiente para merecerem um post autónomo. Não querendo de qualquer forma deixar de os referir (porque alguns têm qualidades redentoras), decidi juntá-los numa só levada... De qualquer forma, e mesmo com os altos e baixos desta lista, se houve-se algum dia de festival com este alinhamento eu estava lá caído de certeza...
Os Pré-Dinossauros
Pearl Jam - Pearl Jam
Quando Ten, o primeiro disco da banda saiu em 1991 (há 15 anos) fartei-me de fazer publicidade, mesmo antes de se tornar no fenómeno que foi. Hoje quando oiço o disco ainda gosto, mas parece-me um bocadinho velho, à semelhança de grande parte das bandas com som muito grunge... Com tanto sucesso confesso que decidi ignorar os 3 discos seguintes (Vs. de 1993, Vitalogy de 1994 e No Code de 1996) e só voltei a acompanhar os Pearl Jam quando atingiram alguma maturidade com o Yield de 1998. Com este disco tentam recuperar um bocado a atitude 100% rockeira das origens, adicionando uma pitada de contestação (isto teoricamente, porque confesso só perceber para aí 1% daquilo que o Eddie Vedder canta). Apesar de a coisa ficar longe de má, os temas são todos demasiado parecidos e cantados da mesma forma, causando algum cansaço antes mesmo de chegar ao final... ( 3 / 5 )
Red Hot Chili Peppers - Stadium Arcadium
Confesso que sigo o trabalho dos RHCP desde os dias de Blood Sugar Sex Magic (1991 - como o Ten dos PJ). Como todas as "carreiras" tem tido altos e baixos. Confesso também ficado totalmente atónito ao ouvir pela 1ª vez o single de estreia deste disco - um tal de Dani California - tal era a simplificação e estupidificação do som RHCP e a coisa não melhorou com as audições subsequentes. Este disco tem faixas bastante melhores, em que o baixo do Flea e a guitarra do John Frusciante voltam a vencer e em pontos o trabalho vocal de equipa (para não lhe chamar coiro) também funciona muito bem. Mas com um total de 28 faixas a palha é mais que muita e honestamente não tenho pachorra. Só de pensar que os rapazes queriam fazer um triplo até fico arrepiado. Não me admiraria nada se no próximo album a banda passa-se a ser uma cena de desenhos animados estilo Gorillaz, tal é a forma como se estão a transformar em cartoons deles próprios. Desconto ainda mais 1/2 ponto por se terem vindo armar em coitadinhos quando souberam que o disco já girava na net. ( 2 / 5 )
O Difícil 2º Disco
Secret Machines - Ten Silver Drops
No verão de 2004 fartei-me de ouvir o primeiro àlbum desta banda para uma major: Now Here Is Nowhere. Conseguiam juntar de forma brilhante o melhor pop/rock indie com o rock progressivo e com aquele som de bateria cheio a fazer lembrar os Led Zep dos tempos aureos. Para o 2º disco parecem ter decidido ser ambiciosos comercialmente, da mesma forma que os Coldplay diziam que queriam ser "a melhor banda do mundo" quando lançaram X&Y. Resumindo, e tirando um ou dois momentos de excepção (Alone, Jealous and Stoned e Daddy's in the Doldrums), entram naquela veia calculista de épicos de estádio que os U2 modernos tanto gostam e tornam-se bastante monótonos e chatos... Vamos lá a ver se se redimem ao 3º disco... ( 2,5 / 5 )
The Stills - Without Feathers
Mais uma banda com um excelente 1º àlbum (Logic Will Break Your Heart de 2003), que decide tomar um caminho diferente para o segundo. Aqui a coisa não corre tão mal, porque a mudança não parece ser feita com intenções comerciais, mas ao trocarem as influências dos anos 80 (Joy Div e Echo) por outras dos 70 (Bowie/Ziggy, Kinks), perdem um bocado a identidade. O disco começa e acaba bastante bem, mas pelo meio a coisa é muito previsível e chata. Mais um para comprovar à 3ª... ( 3 / 5 )
O Projecto Paralelo com os Amigos
The Raconteurs - Broken Boy Soldiers
De férias (esperemos) dos White Stripes, Jack White decide dar uma mãozinha ao seu amigo Brendan Benson e criar uma nova banda. Como é habito em White, precede o àlbum com um single brilhante (Steady, As She Goes) a misturar pop e rock para agradar ao maior número de pessoas possível, mas enquanto que normalmente nos Stripes fica no mínimo ao nível das expectativas, aqui não se pode dizer o mesmo. O disco é uma nítida homenagem ao "classic rock" dos anos 70, o que por vezes funciona bem (quando se aproximam dos Led Zep) e por vezes bastante mal (quando se aproximam dos Black Sabbath). Por outro lado parece que as faixas com som mais White são as melhores. Aquelas em que não o reconhecemos, e que provavelmente serão (mais) da autoria de Benson, deixam-me completamente indiferente, o que aliás já acontecia com o àlbum a solo que ouvi dele (The Alternative to Love de 2005). Por agora comprem o single e oiçam o que vier a seguir... Também me parece que isto deve funcionar bastante melhor ao vivo, mas acho que não têm visita prevista por estas partes. ( 3 / 5 )
O Rock com Companhia
Gomez - How We Operate
Os Gomez são uma das minhas bandas favoritas, mas tendem a ser bastante ignorados por razões que não percebo. É como se ao terem ganho o Mercury ao primeiro disco (Bring it On de 1998), este ser obrigatoriamente o ponto mais alto da sua carreira, não valendo portanto a pena seguir o que daí para a frente viesse (necessariamente inferior). Mas o facto é que tal não ser verifica, e que os Gomez conseguem ser uma das bandas mais consistentes que ouvi até hoje: gosto de todos os discos que fizeram, sem conseguir identificar um favorito. Este How We Operate não é excepção, apesar de à primeira audição parecer ligeiramente inferior (leia-se "mais fácil") provavelmente devido à produção limpinha de Gil Norton, com um pouco de insistência verifica-se mais um lote de excelentes canções pop/rock (com laivos de folk e blues), muito bem cantadas e tocadas. É verdade que não trás nada de novo (é por esse motivo que não teve direito a análise isolada), mas é o som de uma banda livre, a fazer o som que quer, e é o único disco para o qual recomendo a compra sem reservas. ( 4 / 5 )
The Twilight Singers - Powder Burns
Desde os tempos em que estava nos Afghan Whigs (mais uma das minhas bandas preferidas, também muito injustamente ignorada) que tenho uma enorme admiração por Greg Dulli. Não sendo propriamente um génio, é um artista extremamente honesto e que faz música com sentimento real, o que compensa o facto de ter uma das vozes mais desafinadas da história do rock (admito ser um gosto adquirido)... Os Twilight Singers são o início de uma segunda carreira para Dulli após o fim dos referidos Whigs, aqui trabalhando com um conjunto variável de músicos e não com uma banda fixa, e mantendo um pouco a intenção de misturar o rock com a soul. Recomendo vivamente a quem ainda não conheçe o àlbum Blackberry Belle de 2003, o qual se encontra ao nível do melhor trabalho de Dulli, mas este é um bocadinho mais fraco. Gravado em New Orleans (onde Dulli vive há anos) no Outono passado, contou com a ajuda de gente interessante como Ani Difranco, mas o resultado final é demasiado desiquilibrado para ser totalmente recomendável, salvando-se apenas umas quantas canções (entre as quais Bonnie Brae - o single de estreia). Resumindo, apenas para fãs incondicionais, e infelizmente não conheço mais nenhum... ( 3 / 5 )
Enfim... Como podem ver o panorama não anda brilhante... Ou então sou eu que a aproximar-me dos 40 começo finalmente a deixar de gostar de rock... Se calhar já estou quase no ponto para começar a escrever para o Expresso...
Os Pré-Dinossauros
Pearl Jam - Pearl Jam
Quando Ten, o primeiro disco da banda saiu em 1991 (há 15 anos) fartei-me de fazer publicidade, mesmo antes de se tornar no fenómeno que foi. Hoje quando oiço o disco ainda gosto, mas parece-me um bocadinho velho, à semelhança de grande parte das bandas com som muito grunge... Com tanto sucesso confesso que decidi ignorar os 3 discos seguintes (Vs. de 1993, Vitalogy de 1994 e No Code de 1996) e só voltei a acompanhar os Pearl Jam quando atingiram alguma maturidade com o Yield de 1998. Com este disco tentam recuperar um bocado a atitude 100% rockeira das origens, adicionando uma pitada de contestação (isto teoricamente, porque confesso só perceber para aí 1% daquilo que o Eddie Vedder canta). Apesar de a coisa ficar longe de má, os temas são todos demasiado parecidos e cantados da mesma forma, causando algum cansaço antes mesmo de chegar ao final... ( 3 / 5 )
Red Hot Chili Peppers - Stadium Arcadium
Confesso que sigo o trabalho dos RHCP desde os dias de Blood Sugar Sex Magic (1991 - como o Ten dos PJ). Como todas as "carreiras" tem tido altos e baixos. Confesso também ficado totalmente atónito ao ouvir pela 1ª vez o single de estreia deste disco - um tal de Dani California - tal era a simplificação e estupidificação do som RHCP e a coisa não melhorou com as audições subsequentes. Este disco tem faixas bastante melhores, em que o baixo do Flea e a guitarra do John Frusciante voltam a vencer e em pontos o trabalho vocal de equipa (para não lhe chamar coiro) também funciona muito bem. Mas com um total de 28 faixas a palha é mais que muita e honestamente não tenho pachorra. Só de pensar que os rapazes queriam fazer um triplo até fico arrepiado. Não me admiraria nada se no próximo album a banda passa-se a ser uma cena de desenhos animados estilo Gorillaz, tal é a forma como se estão a transformar em cartoons deles próprios. Desconto ainda mais 1/2 ponto por se terem vindo armar em coitadinhos quando souberam que o disco já girava na net. ( 2 / 5 )
O Difícil 2º Disco
Secret Machines - Ten Silver Drops
No verão de 2004 fartei-me de ouvir o primeiro àlbum desta banda para uma major: Now Here Is Nowhere. Conseguiam juntar de forma brilhante o melhor pop/rock indie com o rock progressivo e com aquele som de bateria cheio a fazer lembrar os Led Zep dos tempos aureos. Para o 2º disco parecem ter decidido ser ambiciosos comercialmente, da mesma forma que os Coldplay diziam que queriam ser "a melhor banda do mundo" quando lançaram X&Y. Resumindo, e tirando um ou dois momentos de excepção (Alone, Jealous and Stoned e Daddy's in the Doldrums), entram naquela veia calculista de épicos de estádio que os U2 modernos tanto gostam e tornam-se bastante monótonos e chatos... Vamos lá a ver se se redimem ao 3º disco... ( 2,5 / 5 )
The Stills - Without Feathers
Mais uma banda com um excelente 1º àlbum (Logic Will Break Your Heart de 2003), que decide tomar um caminho diferente para o segundo. Aqui a coisa não corre tão mal, porque a mudança não parece ser feita com intenções comerciais, mas ao trocarem as influências dos anos 80 (Joy Div e Echo) por outras dos 70 (Bowie/Ziggy, Kinks), perdem um bocado a identidade. O disco começa e acaba bastante bem, mas pelo meio a coisa é muito previsível e chata. Mais um para comprovar à 3ª... ( 3 / 5 )
O Projecto Paralelo com os Amigos
The Raconteurs - Broken Boy Soldiers
De férias (esperemos) dos White Stripes, Jack White decide dar uma mãozinha ao seu amigo Brendan Benson e criar uma nova banda. Como é habito em White, precede o àlbum com um single brilhante (Steady, As She Goes) a misturar pop e rock para agradar ao maior número de pessoas possível, mas enquanto que normalmente nos Stripes fica no mínimo ao nível das expectativas, aqui não se pode dizer o mesmo. O disco é uma nítida homenagem ao "classic rock" dos anos 70, o que por vezes funciona bem (quando se aproximam dos Led Zep) e por vezes bastante mal (quando se aproximam dos Black Sabbath). Por outro lado parece que as faixas com som mais White são as melhores. Aquelas em que não o reconhecemos, e que provavelmente serão (mais) da autoria de Benson, deixam-me completamente indiferente, o que aliás já acontecia com o àlbum a solo que ouvi dele (The Alternative to Love de 2005). Por agora comprem o single e oiçam o que vier a seguir... Também me parece que isto deve funcionar bastante melhor ao vivo, mas acho que não têm visita prevista por estas partes. ( 3 / 5 )
O Rock com Companhia
Gomez - How We Operate
Os Gomez são uma das minhas bandas favoritas, mas tendem a ser bastante ignorados por razões que não percebo. É como se ao terem ganho o Mercury ao primeiro disco (Bring it On de 1998), este ser obrigatoriamente o ponto mais alto da sua carreira, não valendo portanto a pena seguir o que daí para a frente viesse (necessariamente inferior). Mas o facto é que tal não ser verifica, e que os Gomez conseguem ser uma das bandas mais consistentes que ouvi até hoje: gosto de todos os discos que fizeram, sem conseguir identificar um favorito. Este How We Operate não é excepção, apesar de à primeira audição parecer ligeiramente inferior (leia-se "mais fácil") provavelmente devido à produção limpinha de Gil Norton, com um pouco de insistência verifica-se mais um lote de excelentes canções pop/rock (com laivos de folk e blues), muito bem cantadas e tocadas. É verdade que não trás nada de novo (é por esse motivo que não teve direito a análise isolada), mas é o som de uma banda livre, a fazer o som que quer, e é o único disco para o qual recomendo a compra sem reservas. ( 4 / 5 )
The Twilight Singers - Powder Burns
Desde os tempos em que estava nos Afghan Whigs (mais uma das minhas bandas preferidas, também muito injustamente ignorada) que tenho uma enorme admiração por Greg Dulli. Não sendo propriamente um génio, é um artista extremamente honesto e que faz música com sentimento real, o que compensa o facto de ter uma das vozes mais desafinadas da história do rock (admito ser um gosto adquirido)... Os Twilight Singers são o início de uma segunda carreira para Dulli após o fim dos referidos Whigs, aqui trabalhando com um conjunto variável de músicos e não com uma banda fixa, e mantendo um pouco a intenção de misturar o rock com a soul. Recomendo vivamente a quem ainda não conheçe o àlbum Blackberry Belle de 2003, o qual se encontra ao nível do melhor trabalho de Dulli, mas este é um bocadinho mais fraco. Gravado em New Orleans (onde Dulli vive há anos) no Outono passado, contou com a ajuda de gente interessante como Ani Difranco, mas o resultado final é demasiado desiquilibrado para ser totalmente recomendável, salvando-se apenas umas quantas canções (entre as quais Bonnie Brae - o single de estreia). Resumindo, apenas para fãs incondicionais, e infelizmente não conheço mais nenhum... ( 3 / 5 )
Enfim... Como podem ver o panorama não anda brilhante... Ou então sou eu que a aproximar-me dos 40 começo finalmente a deixar de gostar de rock... Se calhar já estou quase no ponto para começar a escrever para o Expresso...
28 abril, 2006
BD : Le Ciel Au-dessus de Bruxelles [avant]
Bernar(d) (Hi)Yslaire é mais um dos autores franco-belgas (aqui com assento na 2ª parte) que sigo religiosamente porque todos os seus livros valem a pena, e não é só pelos bonecos! Sambre foi a sua primeira grande obra (e teoricamente ainda não está terminada), depois foi o XXe Ciel - o seu titulo mais experimental - baseado no seu website, e agora é a vez deste novo Ciel (para abreviar) em dois capitulos e a completar em Novembro...
Este primeiro volume baseia-se essencialmente em duas sequências: uma primeira que se passa num campo de concentração russo, em que um judeu é morto com um tiro na cabeça após o separarem da sua irmã mais nova, e uma segunda passada nos nossos dias em Bruxelas, durante as manifs anti-guerra que ocorreram um pouco por todo o mundo antes do início da 2ª "guerra" do Iraque. Neste ambiente único encontram-se um judeu com uma estrela na cabeça (será o mesmo da primeira sequência???) e uma jovem muçulmana que tem por objectivo rebentar-se no meio da multidão.
Mais uma vez a evolução do desenho de Yslaire é notória... Se a primeira sequência vem muito ao estilo do XXe Ciel, na segunda parte o desenho parece ganhar liberdade com linhas mais leves (talvez um apróximar ao estilo de Bilal?) e menos escuridão.
Se é um facto que, como os detractores deste trabalho o dirão, se passa muito pouco neste primeiro volume, a relação de amor-ódio que nasce entre as duas personagens (bem como o nada discreto simbolismo que lhe está subjacente) é suficiente para se ler de uma penada e se ficar a pensar no que se leu, e anciosamente à espera da conclusão... Uma maravilha a não perder por qualquer apreciador de BD...
Este primeiro volume baseia-se essencialmente em duas sequências: uma primeira que se passa num campo de concentração russo, em que um judeu é morto com um tiro na cabeça após o separarem da sua irmã mais nova, e uma segunda passada nos nossos dias em Bruxelas, durante as manifs anti-guerra que ocorreram um pouco por todo o mundo antes do início da 2ª "guerra" do Iraque. Neste ambiente único encontram-se um judeu com uma estrela na cabeça (será o mesmo da primeira sequência???) e uma jovem muçulmana que tem por objectivo rebentar-se no meio da multidão.
Mais uma vez a evolução do desenho de Yslaire é notória... Se a primeira sequência vem muito ao estilo do XXe Ciel, na segunda parte o desenho parece ganhar liberdade com linhas mais leves (talvez um apróximar ao estilo de Bilal?) e menos escuridão.
Se é um facto que, como os detractores deste trabalho o dirão, se passa muito pouco neste primeiro volume, a relação de amor-ódio que nasce entre as duas personagens (bem como o nada discreto simbolismo que lhe está subjacente) é suficiente para se ler de uma penada e se ficar a pensar no que se leu, e anciosamente à espera da conclusão... Uma maravilha a não perder por qualquer apreciador de BD...
19 abril, 2006
Livro : Tokyo Cancelled (Rana Dasgupta)
Rana Dasgupta é um Inglês (descendente de Indianos) que passou grande parte da sua vida em mudanças por esse mundo fora (França, Malásia, EUA). Tendo editado este seu primeiro livro aos 33 anos, partilha actualmente o seu tempo entre Nova Deli e o Reino Unido.
Apesar de "classificado" como romance, Dasgupta prefere considerar este Tokyo Cancelled um "ciclo de histórias". Treze pessoas a caminho de Tókio vêm o seu vôo cancelado por razões metereológicas. Tendo assim que passar a noite no aeroporto de um país não especificado, decidem contar uma história cada uma para passar o tempo. Este mecanismo de interligação das histórias é puramente estético, dado não acrescentar nada às histórias propriamente ditas. Mas essas, totalmente brilhantes, são do melhor que tenho lido nos últimos tempos.
É nitida a tentativa de recuperação da tradição da história oral, tantas vezes associada às lendas e aos contos tradicionais, mas ao incutir as histórias de uma modernidade premente (algumas aproximam-se da ficção cientifica) e de uma construção emocional cuidada das suas personagens, Dasgupta consegue quebrar a classificação óbvia na corrente do realismo fantástico. Depois é transmitida uma noção de globalidade humana que acho que nunca tinha sentido em nenhum livro, ao colocar cada história numa cidade diferente (de Paris a Tóquio passando por Buenos Aires e Nova Iorque), mas sempre com personagens em mudança de uma forma ou outra, é conseguido um fio condutor que nos leva a concluir que todos nós (humanos) estamos de passagem entre dois destinos.
Para variar tenho boas notícias em termos de edição nacional, dado esta já existir pela Bizâncio com o título "Tóquio: Voo Cancelado". Recomendo-vos assim que se dirijam à livraria mais próxima e comprem este livro... Com tamanha desmonstração de uma imaginação absolutamente incrível, este será um autor a seguir muito atentamente.
17 abril, 2006
Disco : Eagles of Death Metal - Death By Sexy
Tenho uma confissão a fazer: o Josh Homme é o meu herói! Como é que um gajo consegue fazer parte de 3 ou 500 bandas, colaborar com montes de gente jeitosa desde os U.N.K.L.E. à PJoca (a minha heroína!!!), viver num rancho no meio do deserto e só ter um "esgotamento" por ano??? Com certeza que fez um pacto com o diabo para ter um abastecimento infinito das drogas que dão mais a volta ao miolo e por isso é que consegue ter tantos amigos!!! Aliás, nesta banda, o vocalista é um tal de Jesse "The Devil" Hughes e tem mesmo estilo de cromo dos anos 80 com bigode e tudo, o que parece vir comprovar a teoria... O resto da banda é algo confuso: ainda não consegui perceber se o Tim Van Hammel (aquele que tocou com os dEUS e que dá a cara pelos Millionaire) conseguiu sobreviver ao àlbum anterior (Peace, Love and Death Metal de 2004) e faz parte deste alinhamento ou não, mas consta que algures pelas 13 faixas (Lucky number!) aparecem alguns amigos de longa data (Mark Lanegan, e Troy Van Neuten dos QOTSA), namoradas (Brody Dale) e comediantes (Jack Black). Agora não me perguntem quem é a criança que faz uma pergunta no final do disco porque não faço ideia...
Convém deixar claro que os EODM (para simplificar) não são uma banda de death metal... São a banda de rock "clássico" metanfetaminado que eu sempre sonhei descobrir num bar cheio de low lifes tatuados e cheiro a suor e cerveja... Provavelmente nunca os encontrei porque não vou a esse tipo de bares... aliás, nem sequer me lembro da última vez que fui a um bar (a minha vida é muito triste e por isso tenho que escrever este blog)... Voltando à vaca quente: o Homme dedica-se à bateria com afinco, o Jesse canta 50% do disco em falseto e rifa comó caraças, as letras são nitidamente pensadas com a cabeça inferior, produção nem é preciso... É só ligar e está a andar...
Será que vai mudar o mundo? Não... Trás alguma coisa de novo? Também não... Mas é o disco que mais me divertiu este ano, fazendo-me sentir alguma vergonha por gostar de algo tão básico. Quem teima em não gostar de um bela de uma guitarrada (Olá Xá!!!) pode fugir a 7 pés, os outros podem ir mandar abaixo uma caneca e pedir para por o disco... Definitivamente SEXY... ( 4 / 5 )
Convém deixar claro que os EODM (para simplificar) não são uma banda de death metal... São a banda de rock "clássico" metanfetaminado que eu sempre sonhei descobrir num bar cheio de low lifes tatuados e cheiro a suor e cerveja... Provavelmente nunca os encontrei porque não vou a esse tipo de bares... aliás, nem sequer me lembro da última vez que fui a um bar (a minha vida é muito triste e por isso tenho que escrever este blog)... Voltando à vaca quente: o Homme dedica-se à bateria com afinco, o Jesse canta 50% do disco em falseto e rifa comó caraças, as letras são nitidamente pensadas com a cabeça inferior, produção nem é preciso... É só ligar e está a andar...
Será que vai mudar o mundo? Não... Trás alguma coisa de novo? Também não... Mas é o disco que mais me divertiu este ano, fazendo-me sentir alguma vergonha por gostar de algo tão básico. Quem teima em não gostar de um bela de uma guitarrada (Olá Xá!!!) pode fugir a 7 pés, os outros podem ir mandar abaixo uma caneca e pedir para por o disco... Definitivamente SEXY... ( 4 / 5 )
Site : PostSecret
Descobri a semana passada este "blog" muito original. Mas não é o vosso blog habitual, em que uma ou várias pessoas + ou - malucas / idiotas / convencidas fala do que lhe apetece... Trata-se de um projecto de arte comunitária da autoria de um senhor chamado Frank Warren, que pede às pessoas para escreverem e ilustrarem num postal um segredo da sua vida e enviarem anonimamente para um endereço em Germantown nos E.U.A. Os postais são seleccionados e digitalizados e todos os Domingos surge um novo lote no site...
Este projecto (com o seu quê de Austeriano) é um enorme sucesso e Frank já recebeu cerca de 300.000 postais, 28 milhões de visitas, artigos em inúmeras publicações (incluindo o NY Times) e até já publicou um livro (Postsecret: Extraordinary Confessions from Ordinary Lives) com uma pequena selecção de segredos. Pela minha parte fiquei viciado em 2 lotes apenas, e passa a contar com o meu click todas as semanas.
05 abril, 2006
Retrete II : A loucura do rei do disco
Estes últimos dias os media têm andado sobrecarregados com notícias sobre o ataque da Associação Fonográfica Portuguesa aos "piratas" da música, nomeadamente quanto à apresentação de 28 queixas-crime sobre endereços IP de teóricos utilizadores de P2P (digo teóricos porque em acções semelhantes nos EUA foram "caçadas" pessoas que nem sequer tinham PC em casa). Estando eu próprio ligado à dita "comunidade P2P" (sim eu sou um BANDIDO), tenho andado a ver as reacções de quem é potencial alvo destas acções, e infelizmente começo a ver o pessoal a ir-se abaixo... Desde putos que perguntam "Ah, mas fazer DL's é ilegal?", a pessoal a panicar e a formatar o disco, e o fórum principal da comunidade a fechar (foram apresentados outros motivos, mas parece-me coincidência a mais - call me paranoid). Tenho lido muita coisa em muito sitio, e garanto-vos que nunca tinha visto tanto pontapé na nossa lingua em tão pouco tempo (e como já devem ter percebido, não é fácil eu reparar em tais coisas). Pela blogosfera também tenho encontrado exemplos de integridade (aqui e aqui) que me levaram a decidir a minha posição sobre o assunto, e a escrever estas linhas. Para não perder de vista a noção de auto-análise que esta coluna é suposto ter, decidi optar pelo formato "auto-entrevista", visto que os media ainda não encontraram nenhum IBM como eu para entrevistar sobre este assunto...
P: Por que motivo(s) faz DL de música?
R: Gosto muito, mas mesmo muito, de música. Quem me conheçe pode até não gostar da música que eu gosto, mas de certeza que concorda com esta afirmação. As rádios e a televisão passam 95% do tempo "música" de que não gosto, sob pressão das majors (excepção feita para a Radar que infelizmente mal se apanha em Lisboa). Provavelmente os media é que têm razão e eu é que sou um anormal ao não gostar da música que "toda a gente gosta".
Com a quantidade de informação disponível em sites como o Pitchfork ou o DrownedinSound, é muito fácil ficar com vontade de ouvir um dado disco. Ora, grande parte desses discos ou nunca chegam cá (nem em importação directa pelas lojas, quanto mais pelas editoras), ou chegam 6 meses depois (ver o exemplo vergonhoso do Extraordinary Machine da Fiona Apple).
Em relação aos artistas mainstream que gosto, faço o DL para ouvir o disco antes de sair e ficar a saber se vale a pena comprar. Se for esse o caso invariavelmente compro o disco no dia em que sai, ou mando vir pela internet se existir edição limitada e não tiver chegado cá (o que felizmente tem acontecido cada vez menos).
P: E compra todos os discos de que gosta?
R: Se tivesse dinheiro suficiente até comprava, mas infelizmente não é esse o caso... Tento comprar o que posso dando prioridade a artistas nacionais (só este ano já comprei 4 CDs) e a edições limitadas. Mas mesmo que não fizesse DL, a situação seria a mesma, como aliás já o era antes de haver DL's e postos de escuta, em que comprava CDs só baseado numa critica ou numa música que ouvi e gostei.
P: E não acha que está a roubar?
R: De forma alguma. Eu penso que todo o cidadão deve ter pleno acesso à cultura. Se os media que deveriam ser responsáveis pela divulgação da cultura não o são, os cidadões devem fazer o que poderem para se cultivar. O problema base é que nos tempos que correm a música não é vista como uma questão cultural, mas sim como um produto puramente comercial e isto tanto pelas editoras que só pensam em cifrões, como pelo governo que mantém uma taxa de IVA de artigo de luxo nos discos. Segundo este ponto de vista, só quem tem dinheiro é que pode ter acesso à cultura, ou será que pensam que as pessoas que ganham o ordenado mínimo podem comprar muitos CDs a 15-20 € cada? Quem não tem dinheiro para comprar livros, pode sempre ir a uma biblioteca...
P: E como justifica a quebra de 40% nas vendas em 5 anos que a AFP considera devida ao P2P?
R: Não vou dizer que os DL's não sejam responsáveis por uma parte dessa quebra, mas já foram feitos inúmeros estudos que revelam que em valores médios quem utiliza mais o P2P é também quem compra mais música. Acredito também que exista muita gente que não compra um único disco, por não ter dinheiro, ou por considerar a música um simbolo de estilo e não uma arte. Mas não é por haver P2P que essas pessoas não compram música... A AFP e as outras associações discograficas por esse mundo fora, poderiam pensar um pouco noutras razões que justifiquem esse decréscimo. Eu que não sou business man consigo pensar em várias assim de repente:
- A falta de qualidade e inovação do "produto" que colocam à venda.
- O preço dos discos em Portugal - porquê comprar a colectânea dos Massive Attack por 24€ na FNAC se se pode mandar vir da CD WOW por 18€ com portes incluídos? A AFP esqueçe-se que vivemos num mercado cada vez mais global, e se eu fizer um DL legal via iTunes (como já aconteceu várias vezes), não entra concerteza para as estatísticas de vendas que a AFP utiliza.
- A redução do poder de compra dos Portugueses, que é bem real e que todos sentimos na pele. Afinal de contas, o disco é um produto de luxo ;-), logo um dos primeiros a cortar no aperto do cinto.
- Um eventual decréscimo do interesse das novas gerações pela música. Em tempos muito antigos, a música só podia ser ouvida ao vivo e eram certamente momentos mágicos. Nos tempos que correm, e em qualquer cidade, aonde quer que se vá, está a tocar música. Centros comercias, restaurantes, elevadores, estamos permanentemente rodeados de som, o que concerteza reduz o valor da música, da mesma forma que reduziria o apetite se estivessemos constantemente a comer.
P: E o que acha que a AFP vai conseguir com estas acções?
R: Para mim é claro que a AFP está a morder a mão que a alimenta. Ao moverem processos contra particulares que fazem DLs para uso pessoal, e ULs para difusão da música de que gostam, estão a alianar os seus melhores clientes, dado serem pessoas que gostam realmente de música.
As editoras deveriam pensar em fazer alterações profundas ao modelo de negócio que praticam (na realidade já o deveriam ter feito há uns bons 5 anos). Não só em termos da forma (online vs. loja fisica), mas também ao nível da gestão. Porquê gastar tanto dinheiro em marketing? A música não fala por si? Porque é que não a deixam falar? Porquê pagar milhões a artistas comerciais, quando existem inúmeros que fazem muito melhor música à espera de uma oportunidade que não aparece? A forma como esta gente gasta o dinheiro é perfeitamente imoral (fico sempre muito deprimido quando vejo o The Fabulous Life na VH1). Como é que se consegue ser tão fútil num mundo em que uma parte muito significativa da população nem tem dinheiro para comer? Porquê manipular o mercado? São tão incompetentes que não têm ninguém nos quadros que consiga distinguir boa música de um balde de merda?
Aos meus olhos são um gigante a dar o seu último grito... Está na hora de se adaptarem aos tempos ou morrerem.
P: Por que motivo(s) faz DL de música?
R: Gosto muito, mas mesmo muito, de música. Quem me conheçe pode até não gostar da música que eu gosto, mas de certeza que concorda com esta afirmação. As rádios e a televisão passam 95% do tempo "música" de que não gosto, sob pressão das majors (excepção feita para a Radar que infelizmente mal se apanha em Lisboa). Provavelmente os media é que têm razão e eu é que sou um anormal ao não gostar da música que "toda a gente gosta".
Com a quantidade de informação disponível em sites como o Pitchfork ou o DrownedinSound, é muito fácil ficar com vontade de ouvir um dado disco. Ora, grande parte desses discos ou nunca chegam cá (nem em importação directa pelas lojas, quanto mais pelas editoras), ou chegam 6 meses depois (ver o exemplo vergonhoso do Extraordinary Machine da Fiona Apple).
Em relação aos artistas mainstream que gosto, faço o DL para ouvir o disco antes de sair e ficar a saber se vale a pena comprar. Se for esse o caso invariavelmente compro o disco no dia em que sai, ou mando vir pela internet se existir edição limitada e não tiver chegado cá (o que felizmente tem acontecido cada vez menos).
P: E compra todos os discos de que gosta?
R: Se tivesse dinheiro suficiente até comprava, mas infelizmente não é esse o caso... Tento comprar o que posso dando prioridade a artistas nacionais (só este ano já comprei 4 CDs) e a edições limitadas. Mas mesmo que não fizesse DL, a situação seria a mesma, como aliás já o era antes de haver DL's e postos de escuta, em que comprava CDs só baseado numa critica ou numa música que ouvi e gostei.
P: E não acha que está a roubar?
R: De forma alguma. Eu penso que todo o cidadão deve ter pleno acesso à cultura. Se os media que deveriam ser responsáveis pela divulgação da cultura não o são, os cidadões devem fazer o que poderem para se cultivar. O problema base é que nos tempos que correm a música não é vista como uma questão cultural, mas sim como um produto puramente comercial e isto tanto pelas editoras que só pensam em cifrões, como pelo governo que mantém uma taxa de IVA de artigo de luxo nos discos. Segundo este ponto de vista, só quem tem dinheiro é que pode ter acesso à cultura, ou será que pensam que as pessoas que ganham o ordenado mínimo podem comprar muitos CDs a 15-20 € cada? Quem não tem dinheiro para comprar livros, pode sempre ir a uma biblioteca...
P: E como justifica a quebra de 40% nas vendas em 5 anos que a AFP considera devida ao P2P?
R: Não vou dizer que os DL's não sejam responsáveis por uma parte dessa quebra, mas já foram feitos inúmeros estudos que revelam que em valores médios quem utiliza mais o P2P é também quem compra mais música. Acredito também que exista muita gente que não compra um único disco, por não ter dinheiro, ou por considerar a música um simbolo de estilo e não uma arte. Mas não é por haver P2P que essas pessoas não compram música... A AFP e as outras associações discograficas por esse mundo fora, poderiam pensar um pouco noutras razões que justifiquem esse decréscimo. Eu que não sou business man consigo pensar em várias assim de repente:
- A falta de qualidade e inovação do "produto" que colocam à venda.
- O preço dos discos em Portugal - porquê comprar a colectânea dos Massive Attack por 24€ na FNAC se se pode mandar vir da CD WOW por 18€ com portes incluídos? A AFP esqueçe-se que vivemos num mercado cada vez mais global, e se eu fizer um DL legal via iTunes (como já aconteceu várias vezes), não entra concerteza para as estatísticas de vendas que a AFP utiliza.
- A redução do poder de compra dos Portugueses, que é bem real e que todos sentimos na pele. Afinal de contas, o disco é um produto de luxo ;-), logo um dos primeiros a cortar no aperto do cinto.
- Um eventual decréscimo do interesse das novas gerações pela música. Em tempos muito antigos, a música só podia ser ouvida ao vivo e eram certamente momentos mágicos. Nos tempos que correm, e em qualquer cidade, aonde quer que se vá, está a tocar música. Centros comercias, restaurantes, elevadores, estamos permanentemente rodeados de som, o que concerteza reduz o valor da música, da mesma forma que reduziria o apetite se estivessemos constantemente a comer.
P: E o que acha que a AFP vai conseguir com estas acções?
R: Para mim é claro que a AFP está a morder a mão que a alimenta. Ao moverem processos contra particulares que fazem DLs para uso pessoal, e ULs para difusão da música de que gostam, estão a alianar os seus melhores clientes, dado serem pessoas que gostam realmente de música.
As editoras deveriam pensar em fazer alterações profundas ao modelo de negócio que praticam (na realidade já o deveriam ter feito há uns bons 5 anos). Não só em termos da forma (online vs. loja fisica), mas também ao nível da gestão. Porquê gastar tanto dinheiro em marketing? A música não fala por si? Porque é que não a deixam falar? Porquê pagar milhões a artistas comerciais, quando existem inúmeros que fazem muito melhor música à espera de uma oportunidade que não aparece? A forma como esta gente gasta o dinheiro é perfeitamente imoral (fico sempre muito deprimido quando vejo o The Fabulous Life na VH1). Como é que se consegue ser tão fútil num mundo em que uma parte muito significativa da população nem tem dinheiro para comer? Porquê manipular o mercado? São tão incompetentes que não têm ninguém nos quadros que consiga distinguir boa música de um balde de merda?
Aos meus olhos são um gigante a dar o seu último grito... Está na hora de se adaptarem aos tempos ou morrerem.
03 abril, 2006
DVD : Gorillaz - Demon Days Live
Desde o início que este projecto tem tudo para o meu deleite. Damon Albarn é o líder de uma das minhas bandas favoritas (os Blur) e desde os tempos de Tank Girl (já lá vão uns 20 anitos) que tenho uma adoração muito particular pelos "bonecos" do Jamie Hewlett. Depois de um 1º àlbum bom, mas um pouco irregular, os Gorillaz brindaram-nos com Demon Days o ano passado o qual, apesar de ainda não perfeito, conseguia ser mais equilibrado e menos infantil.
A série de 5 concertos realizados na Opera House de Manchester em Novembro do ano passado que este DVD documenta, foram de certa forma a consagração de um fenómeno mediatico, passando para um plano muito real o conceito totalmente abstracto da banda. Imaginem um conjunto de paineis translucidos e coloridos, algures entre vitrais e quadrados de banda desenhada, com os elementos reais da banda atrás a aparecerem como meras silhuetas. Por cima, um ecrã gigante a passar os visuais geniais de Hewlett. À frente, no palco, do lado direito, uma pequena orquestra de cordas, e do lado esquerdo, tema a tema, os colaboradores originais do àlbum vão-se sucedendo: Neneh Cherry, Martina Topley-Bird, De La Soul, Shaun Rider, coro de gospel, e muitos mais. Confesso que quando Dirty Harry iniciou com o coro de crianças em palco até me vieram lagrimas aos olhos, tal era a alegria e descontracção com que ali estavam...
É com esta apresentação que se torna claro para mim o que a banda tem de mais genial (para além do marketing): é o facto de juntar todos os tipos musicais (hip-hop, dance, folk, rock, world, etc.) enfiá-los num misturador de ideias e apresentar um resultado consistente. E ao vivo parece daqueles concertos em que a festa parece ainda maior em palco do que na assistência...
No plano técnico o DVD está impecável: som DTS, 5.1 e stereo, realização muito boa a utilizar de forma útil o split screen para podermos acompanhar melhor a confusão que reina em palco e na tela, e ainda dá a possibilidade de ver apenas os visuais projectados durante o concerto. Não ficaria nada mal algumas cenas de bastidores com os elementos a conviver entre si (o Shaun Rider parecia muito "bem disposto" como é habito), mas não se pode ter tudo, e o que aqui está já é muito bom.
A série de 5 concertos realizados na Opera House de Manchester em Novembro do ano passado que este DVD documenta, foram de certa forma a consagração de um fenómeno mediatico, passando para um plano muito real o conceito totalmente abstracto da banda. Imaginem um conjunto de paineis translucidos e coloridos, algures entre vitrais e quadrados de banda desenhada, com os elementos reais da banda atrás a aparecerem como meras silhuetas. Por cima, um ecrã gigante a passar os visuais geniais de Hewlett. À frente, no palco, do lado direito, uma pequena orquestra de cordas, e do lado esquerdo, tema a tema, os colaboradores originais do àlbum vão-se sucedendo: Neneh Cherry, Martina Topley-Bird, De La Soul, Shaun Rider, coro de gospel, e muitos mais. Confesso que quando Dirty Harry iniciou com o coro de crianças em palco até me vieram lagrimas aos olhos, tal era a alegria e descontracção com que ali estavam...
É com esta apresentação que se torna claro para mim o que a banda tem de mais genial (para além do marketing): é o facto de juntar todos os tipos musicais (hip-hop, dance, folk, rock, world, etc.) enfiá-los num misturador de ideias e apresentar um resultado consistente. E ao vivo parece daqueles concertos em que a festa parece ainda maior em palco do que na assistência...
No plano técnico o DVD está impecável: som DTS, 5.1 e stereo, realização muito boa a utilizar de forma útil o split screen para podermos acompanhar melhor a confusão que reina em palco e na tela, e ainda dá a possibilidade de ver apenas os visuais projectados durante o concerto. Não ficaria nada mal algumas cenas de bastidores com os elementos a conviver entre si (o Shaun Rider parecia muito "bem disposto" como é habito), mas não se pode ter tudo, e o que aqui está já é muito bom.
24 março, 2006
BD : Revelations
Quando esta mini-série foi anunciada quase há um ano, a minha primeira reacção foi "Oh não! As cópias do Código Da Vinci já chegaram aos comics...". Mas pelo facto de ser publicada pela Dark Horse e por gostar dos criadores: Paul Jenkins pelo trabalho feito no Hellblazer, na mini-série da Marvel Knights dos Inhumans e pelo Origin; Humberto Ramos principalmente pelas séries limitadas que co-criou (Crimson e Out There), decidi arriscar. E devo confessar que não me arrependi.
Em Revelations assistimos à chegada de Charlie Northern, um dos detectives de topo da Scottland Yard, ao Vaticano para investigar a morte misteriosa de um alto cargo (indicado como possível sucessor do Papa) que foi projectado da janela do seu escritório. Mas os motivos porque lhe foi "encomendada" esta investigação não são nada óbvios, dado o próprio Vaticano estar a esconder a verdade e a fazer tudo para que não chegue a nenhuma conclusão.
Para mim a série funciona essencialmente a três níveis: a personagem principal está muito bem pensada, tendo ele próprio "perdido a fé" após acontecimentos traumáticos na sua vida, e é de um cinismo brilhante; os diálogos, e estes representam a fatia de leão da série dado tratar-se essencialmente de uma investigação criminal, estão muito bem escritos; a arte de Ramos parece ter evoluido uns 300% e está um espanto. Mas sobretudo consegue manter o interesse a níveis muito elevados ao longo dos seus 6 números, tendo-se tornado um dos primeiros comics a sair da pilha sempre que recebia um lote.
A Dark Horse vai editar o TP em Junho e não me parece ser de excluir a possibilidade de que isto saia por cá, dado ter nitidamente as condições que normalmente parecem ser necessárias para uma edição "premium" da Devir: séries fechadas com arte cativante e com autores em início de carreira. A ver vamos...
Em Revelations assistimos à chegada de Charlie Northern, um dos detectives de topo da Scottland Yard, ao Vaticano para investigar a morte misteriosa de um alto cargo (indicado como possível sucessor do Papa) que foi projectado da janela do seu escritório. Mas os motivos porque lhe foi "encomendada" esta investigação não são nada óbvios, dado o próprio Vaticano estar a esconder a verdade e a fazer tudo para que não chegue a nenhuma conclusão.
Para mim a série funciona essencialmente a três níveis: a personagem principal está muito bem pensada, tendo ele próprio "perdido a fé" após acontecimentos traumáticos na sua vida, e é de um cinismo brilhante; os diálogos, e estes representam a fatia de leão da série dado tratar-se essencialmente de uma investigação criminal, estão muito bem escritos; a arte de Ramos parece ter evoluido uns 300% e está um espanto. Mas sobretudo consegue manter o interesse a níveis muito elevados ao longo dos seus 6 números, tendo-se tornado um dos primeiros comics a sair da pilha sempre que recebia um lote.
A Dark Horse vai editar o TP em Junho e não me parece ser de excluir a possibilidade de que isto saia por cá, dado ter nitidamente as condições que normalmente parecem ser necessárias para uma edição "premium" da Devir: séries fechadas com arte cativante e com autores em início de carreira. A ver vamos...
21 março, 2006
Filme : C.R.A.Z.Y.
Este filme canadiano realizado por um tal de Jean-Marc Vallée, anda a ganhar tudo o que é prémio de cinema na sua terra e já é considerado um sério candidato ao Óscar de melhor filme estrangeiro para o próximo ano.
Zachary, nascido no dia de Natal de 1960, é o quarto irmão de uma familia de cinco. O filme acompanha a sua vida (e da sua família) durante cerca de duas décadas, mostrando de forma muito realista as relações familiares, com particular incidência sobre a relação disfuncional com o pai, um homem algo severo, mas com imenso amor pelos filhos.
C.R.A.Z.Y. é um daqueles filmes sobre a vida das pessoas normais que, apesar de não apresentar nada de particularmente inovador, nos prende de uma forma incrível e que nos faz sentir grande empatia pelas personagens. Servido de excelentes interpretações, uma realização bem controlada entre a história e o estilo, dialogos muito verosimeis e uma banda sonora bem utilizada a acompanhar os tempos (Patsy Kline, Pink Floyd, Stones, David Bowie, etc.), é sem dúvida um filme a ver, pecando apenas por alguma estereotipização dos irmãos (quase parecem as Spice Girls: há o desportista, o intelectual, o drogado e o androgeno), que é facilmente perdoável pelo que nos oferece. ( 4 / 5 )
Zachary, nascido no dia de Natal de 1960, é o quarto irmão de uma familia de cinco. O filme acompanha a sua vida (e da sua família) durante cerca de duas décadas, mostrando de forma muito realista as relações familiares, com particular incidência sobre a relação disfuncional com o pai, um homem algo severo, mas com imenso amor pelos filhos.
C.R.A.Z.Y. é um daqueles filmes sobre a vida das pessoas normais que, apesar de não apresentar nada de particularmente inovador, nos prende de uma forma incrível e que nos faz sentir grande empatia pelas personagens. Servido de excelentes interpretações, uma realização bem controlada entre a história e o estilo, dialogos muito verosimeis e uma banda sonora bem utilizada a acompanhar os tempos (Patsy Kline, Pink Floyd, Stones, David Bowie, etc.), é sem dúvida um filme a ver, pecando apenas por alguma estereotipização dos irmãos (quase parecem as Spice Girls: há o desportista, o intelectual, o drogado e o androgeno), que é facilmente perdoável pelo que nos oferece. ( 4 / 5 )
17 março, 2006
Disco : Morrissey - Ringleader of the Tormentors
Apesar de me ter prometido escrever por aqui apenas sobre "coisas" que goste, quando no outro dia ouvi este disco pela primeira vez, escrevi uma reacção a quente que me parece suficientemente boa para publicar, apesar de bastante negativa:
Para Ringleader of the Tormentors, Morrissey troca a metralhadora por um violino. Paralelamente troca também o activismo político brutalmente honesto, por um coro de criancinhas italianas. Para ajudar à festa vai buscar Tony Visconti para a produção, que desde o fim dos anos 80 tem o toque de Midas ao contrário: tudo em que toca transforma-se em pasta indistinta. Este Ringleader vem confirmar a regra de que este senhor só consegue fazer um disco de jeito por década (Viva Hate nos 80, Vauxhall and I nos 90 e You Are the Quarry nos 00), o que quer dizer que antes de 2010 escusam de ouvir outro disco dele. Citando as suas próprias palavras: “The world is full of crashing bores, and I’m one of them…”.
O disco não é tão mau como esta reacção poderá levar a acreditar, mas a minha desilusão continua enorme, apesar de haver quem ache que este é o melhor disco a solo de Morrissey. Por isso o melhor é não se limitarem à minha opinião, mas se estão impacientemente à espera deste disco é melhor ouvirem antes de comprarem... ( 2,5 / 5 )
Para Ringleader of the Tormentors, Morrissey troca a metralhadora por um violino. Paralelamente troca também o activismo político brutalmente honesto, por um coro de criancinhas italianas. Para ajudar à festa vai buscar Tony Visconti para a produção, que desde o fim dos anos 80 tem o toque de Midas ao contrário: tudo em que toca transforma-se em pasta indistinta. Este Ringleader vem confirmar a regra de que este senhor só consegue fazer um disco de jeito por década (Viva Hate nos 80, Vauxhall and I nos 90 e You Are the Quarry nos 00), o que quer dizer que antes de 2010 escusam de ouvir outro disco dele. Citando as suas próprias palavras: “The world is full of crashing bores, and I’m one of them…”.
O disco não é tão mau como esta reacção poderá levar a acreditar, mas a minha desilusão continua enorme, apesar de haver quem ache que este é o melhor disco a solo de Morrissey. Por isso o melhor é não se limitarem à minha opinião, mas se estão impacientemente à espera deste disco é melhor ouvirem antes de comprarem... ( 2,5 / 5 )
Disco : Yeah Yeah Yeahs - Show Your Bones
Cá está o difícil segundo disco para o trio de Nova Iorque liderado pela inacreditável Karen O. A quem o 1º disco (Fever to Tell de 2003) passou despercebido, os YYY's fazem um rock simples e abrasivo com elementos de New Wave e Punk, e apenas com 3 instrumentos: bateria, guitarra e voz...
Como em tudo, este disco tem vantagens e desvantagens face ao seu antecessor: se por um lado os YYY's se mostram mais maduros e responsáveis, o que comprova uma necessária capacidade de evolução, por outro sinto falta daquelas faixas a abrir com a Karen a berrar a plenos pulmões...
Basicamente o som está mais New Wave e menos Punk, logo mais "dançável" (pensem em Franz Ferdinand e não em Chemical Brothers) e variado, mas menos orientado para a catarse dos demónios interiores dos elementos da banda (e dos nossos por arrasto). O resultado é que parece que os YYY's estão a crescer depressa demais, e que deveria haver qualquer coisa entre 2003 e 2006 que não viu a luz do dia... Isto para não pensar que venderam a alma a Jesus e que por isso agora querem ser bonzinhos e ganhar dinheiro.
De qualquer modo é um bom disco, com algumas faixas a chegar ao nível de brilhante (como o single de estreia Gold Lion) que não posso deixar de recomendar. ( 4 / 5 )
Como em tudo, este disco tem vantagens e desvantagens face ao seu antecessor: se por um lado os YYY's se mostram mais maduros e responsáveis, o que comprova uma necessária capacidade de evolução, por outro sinto falta daquelas faixas a abrir com a Karen a berrar a plenos pulmões...
Basicamente o som está mais New Wave e menos Punk, logo mais "dançável" (pensem em Franz Ferdinand e não em Chemical Brothers) e variado, mas menos orientado para a catarse dos demónios interiores dos elementos da banda (e dos nossos por arrasto). O resultado é que parece que os YYY's estão a crescer depressa demais, e que deveria haver qualquer coisa entre 2003 e 2006 que não viu a luz do dia... Isto para não pensar que venderam a alma a Jesus e que por isso agora querem ser bonzinhos e ganhar dinheiro.
De qualquer modo é um bom disco, com algumas faixas a chegar ao nível de brilhante (como o single de estreia Gold Lion) que não posso deixar de recomendar. ( 4 / 5 )
Disco : Émilie Simon - Végétal
Já tinha gostado muito dos albuns anteriores desta rapariga: o homónimo de 2003 que foi subtilmente considerado o 1º álbum de trip-hop francês pela imprensa desse pais, e a banda sonora do filme La Marche de l'empereur (A Marcha dos Pinguins na versão nacional) que apesar de não funcionar tão bem sem o filme (como quase todas as bandas sonoras), tinha ideias suficientemente originais para merecer escuta repetida, mas é com este Végétal, acabadinho de sair em terras francófonas, que Simon vem confirmar o hipotético lugar no meu podium dos artistas a seguir fanaticamente.
Filha de pai engenheiro de som e de mãe música, fez o conservatório e tocou um bocadinho de tudo (jazz, rock) até chegar à "Electrónica". Ou seja, facilmente se percebe que a pequena Émilie nasceu rodeada de música e para a música. E nota-se... este álbum está recheado de excelentes temas que são complexamente simples, ou seja, às primeiras audições parecem simples e delicados, mas com a repetição apresentam uma complexidade discreta mas impressionante. Recheado de ideias originais e inovadoras, como por exemplo a utilização do crepitar do fogo como elemento ritmico em Cendres, a electrónica utilizada torna-se praticamente orgânica, o que, junto ao facto de grande parte das letras falarem de plantas, justifica plenamente o título do disco. É um disco feito de contradições que consegue ser ao mesmo tempo muito moderno e muito clássico e juntar o romantismo a alguma frieza. Mas atenção que não é um disco imediato, só ao fim de algumas audições é que Végétal revela toda a sua beleza, merecendo assim uma abordagem paciente. Para mim já entrou directamente para a lista dos 5 melhores do ano...
Para não variar a edição por cá é muito pouco provável. Apesar de cerca de 1/3 ser cantado em inglês, os discos franceses raramente chegam fora dos países francofonos, em parte devido ao proteccionismo que fazem ao seu mercado musical... Mas pode ser que me venha a surpreender... Pelo sim pelo não encomendei a minha cópia directamente da origem. ( 4,5 / 5 )
Filha de pai engenheiro de som e de mãe música, fez o conservatório e tocou um bocadinho de tudo (jazz, rock) até chegar à "Electrónica". Ou seja, facilmente se percebe que a pequena Émilie nasceu rodeada de música e para a música. E nota-se... este álbum está recheado de excelentes temas que são complexamente simples, ou seja, às primeiras audições parecem simples e delicados, mas com a repetição apresentam uma complexidade discreta mas impressionante. Recheado de ideias originais e inovadoras, como por exemplo a utilização do crepitar do fogo como elemento ritmico em Cendres, a electrónica utilizada torna-se praticamente orgânica, o que, junto ao facto de grande parte das letras falarem de plantas, justifica plenamente o título do disco. É um disco feito de contradições que consegue ser ao mesmo tempo muito moderno e muito clássico e juntar o romantismo a alguma frieza. Mas atenção que não é um disco imediato, só ao fim de algumas audições é que Végétal revela toda a sua beleza, merecendo assim uma abordagem paciente. Para mim já entrou directamente para a lista dos 5 melhores do ano...
Para não variar a edição por cá é muito pouco provável. Apesar de cerca de 1/3 ser cantado em inglês, os discos franceses raramente chegam fora dos países francofonos, em parte devido ao proteccionismo que fazem ao seu mercado musical... Mas pode ser que me venha a surpreender... Pelo sim pelo não encomendei a minha cópia directamente da origem. ( 4,5 / 5 )
16 março, 2006
Livro : Mygale (Thierry Jonquet)
Este pequeno livro (150 páginas) é um policial muito negro, que nos conta uma história de vingança doentia e muito bem planeada, através de três fios narrativos: Richard Lafargue é um cirurgião plástico reconhecido que tem uma relação muito estranha com a sua mulher Éve, a qual tranca todas as noites no seu quarto após lhe administrar uma dose de ópio; Vincent Moreau é um criminoso de segunda que se encontra escondido a curar um tiro que levou na perna na sequência de um assalto a um banco que correu mal e em que matou um polícia; uma terceira personagem é raptado e preso a uma parede com correntes...
Mygale está muito bem escrito e lê-se quase todo de seguida. Para um livro escrito em 1984 (já la vão mais de 20 anos) mantém-se estranhamente actual. De tal forma que Pedro Almodovar o vai transformar em filme (e é sem dúvida o realizador perfeito para o fazer)...
Quanto a edição nacional, já sabem como é, nem pó... Mas se o francês for uma dificuldade podem sempre recorrer à edição inglesa que dá pelo título de Tarantula.
Mygale está muito bem escrito e lê-se quase todo de seguida. Para um livro escrito em 1984 (já la vão mais de 20 anos) mantém-se estranhamente actual. De tal forma que Pedro Almodovar o vai transformar em filme (e é sem dúvida o realizador perfeito para o fazer)...
Quanto a edição nacional, já sabem como é, nem pó... Mas se o francês for uma dificuldade podem sempre recorrer à edição inglesa que dá pelo título de Tarantula.
14 março, 2006
Série : The IT Crowd
Criado por Graham Linehan (Father Ted), esta série de humor britânico é a primeira a dedicar-se a essas aberrações da natureza (e falo contra mim ;-) que são os informáticos! Peguem em dois sys admins totalmente cromos: Moss - o exemplo do informático socialmente inepto incapaz de proferir uma frase que não tenha a ver com computadores - e Roy - um Irlandês cuja higiene e estado de humor são sempre duvidosos e é viciado em comics, e imaginem-os a trabalhar na sub-sub-cave de uma empresa financeira. Depois imaginem a contratação de uma mulher (Jen), que impolou consideravelmente os seus conhecimentos de informática no CV, como chefe deles e coloquem-nos nas situações mais mirabulantes possível, e terão uma ideia do que esta série oferece.
Apesar de um pouco básica a todos os níveis (realização, interpretações e mesmo no humor), a série é completamente viciante e muito divertida. Consumi esta primeira série, acompanhado da minha Maria (que também é desta espécie), em duas sessões continuas de 3 episódios e rimos que nem uns animais... e ficámos com muita pena de não haver mais (por agora)...
Quanto a hipoteses de isto passar na nossa maravilhosa TV, estas parecem-me reduzidas. A compra de programas no Channel 4 não é muito comum, e acontecendo, o mais provável seria passar lá para as 2 da manhã... Mas não desesperem, porque existem outras possibilidades: o site oficial tem excertos que podem ver (os 2 primeiros episodios foram disponibilizados na integra antes de serem transmitidos); também podem ver ou fazer DL directo aqui; podem recorrer ao P2P; ou podem sempre importar o DVD de Inglaterra (sai em Outubro). Eu fico impacientemente à espera da 2ª série (desta feita com 8 episodios) já prometida para o início do próximo ano...
13 março, 2006
Livro : The People's Act of Love (James Meek)
Passado em Yazyk, uma pequena aldeia Siberiana em 1919, este livro apresenta de forma brilhante a realidade de um dos periodos mais conturbados da história Russa: a revolução. Em The People's Act of Love cruzam-se 4 personagens principais: Samarin um estudante feito prisioneiro politico que foge do campo de trabalho e se encontra na aldeia perseguido por um canibal (o Mohicano); o Tenente Mutz da legião Checa, cujo batalhão fica isolado a tomar conta do Expresso Trans-Siberiano após a queda do império Austro-Hungaro; Balashov, líder espiritual da seita de "Eunucos" que ocupa grande parte da aldeia; e Anna, uma mulher moderna dedicada à liberdade e às artes. Estas personagens cruzam-se e tem em comum sentirem e acreditarem no amor, apesar de nem todos o fazerem da mesma forma.
Muito bem escrito, Meek consegue-nos transportar com tremenda facilidade para esta época em que a morte nunca anda longe, e através das suas personagens faz-nos sentir a forma intensa como a vida era então vivida, levando-nos como é lógico a filosofar sobre o sentido da mesma. A forma fragmentada como nos conta esta história sem nunca entrar em pormenores desnecessários, nem em melodramatismos fáceis, deixa-nos quase totalmente "no escuro" em relação a todos os segredos que as personagens escondem, terminando com um fim satisfatório e pouco óbvio.
Long-listed para o Booker de 2005, é uma excelente surpresa que podem encontrar na FNARC na secção de livros importados. Para os menos aventureiros, pode ser que alguma editora nacional venha a pegar nisto...
Muito bem escrito, Meek consegue-nos transportar com tremenda facilidade para esta época em que a morte nunca anda longe, e através das suas personagens faz-nos sentir a forma intensa como a vida era então vivida, levando-nos como é lógico a filosofar sobre o sentido da mesma. A forma fragmentada como nos conta esta história sem nunca entrar em pormenores desnecessários, nem em melodramatismos fáceis, deixa-nos quase totalmente "no escuro" em relação a todos os segredos que as personagens escondem, terminando com um fim satisfatório e pouco óbvio.
Long-listed para o Booker de 2005, é uma excelente surpresa que podem encontrar na FNARC na secção de livros importados. Para os menos aventureiros, pode ser que alguma editora nacional venha a pegar nisto...
06 março, 2006
Disco : A Naifa - 3 Minutos Antes de a Maré Encher
Devo começar por confessar que não gosto de fado, é genero que sempre me pareceu artificial e exagerado, e por isso sempre me deixou bastante distante. Talvez por esse motivo, aliado à falta de credibilidade que atribuía ao Luís Varatojo (ex-Peste & Sida e apresentador de televisão de fugida), o 1º álbum (Canções Subterrâneas de 2003) destes A Naifa passou-me completamente ao lado. Provavelmente o facto de não passar regularmente na rádio e na televisão também não deve ter ajudado... Por recomendação de um amigo meu, da última vez que fui à FNARC, meti os édefónes e pus-me a ouvir isto... e tive logo de o trazer comigo...
O som que A Naifa faz já foi apelidado de "fado alternativo" e "novo fado", mas para mim "trip fado" é uma definição mais próxima da realidade, dado juntar admiravelmente os ambientes soturnos do Trip Hop e do fado, o que faz imenso sentido, dado ambos os estilos terem forte ancoragem numa noção de tristeza e melancolia. Musicalmente a coisa é portanto impecável, com o tal do Varatojo a tocar muito bem e de forma pouco convencional a guitarra portuguesa, e o baixo de João Aguardela a "encher" o som. Mas é a voz de Mitó (Maria Antónia Mendes) que sobressaí do conjunto, com o espanto de versatilidade que vai de registos perto da declamação até ao fado mais tradicional.
Destaque ainda para os poemas, brilhantes em quase todos os temas e da autoria da nossa nova geração de poetas (Rui Lage, José Luís Peixoto, Adília Lopes, etc.), que deixam um travo amargo a desencanto, pontuado por vezes por algum cinísmo e ironia (principalmente no deliciosamente herege Fé).
Acho que foi a última vez que disse que não gosto de fado... Altamente recomendado apesar de uma ou outra faixa menos conseguida (Señoritas p. ex.)... Façam lá o favor de incentivar a produção de boa música Portuguesa e vão à loja comprar este CD... ( 4 / 5 )
O som que A Naifa faz já foi apelidado de "fado alternativo" e "novo fado", mas para mim "trip fado" é uma definição mais próxima da realidade, dado juntar admiravelmente os ambientes soturnos do Trip Hop e do fado, o que faz imenso sentido, dado ambos os estilos terem forte ancoragem numa noção de tristeza e melancolia. Musicalmente a coisa é portanto impecável, com o tal do Varatojo a tocar muito bem e de forma pouco convencional a guitarra portuguesa, e o baixo de João Aguardela a "encher" o som. Mas é a voz de Mitó (Maria Antónia Mendes) que sobressaí do conjunto, com o espanto de versatilidade que vai de registos perto da declamação até ao fado mais tradicional.
Destaque ainda para os poemas, brilhantes em quase todos os temas e da autoria da nossa nova geração de poetas (Rui Lage, José Luís Peixoto, Adília Lopes, etc.), que deixam um travo amargo a desencanto, pontuado por vezes por algum cinísmo e ironia (principalmente no deliciosamente herege Fé).
Acho que foi a última vez que disse que não gosto de fado... Altamente recomendado apesar de uma ou outra faixa menos conseguida (Señoritas p. ex.)... Façam lá o favor de incentivar a produção de boa música Portuguesa e vão à loja comprar este CD... ( 4 / 5 )
04 março, 2006
Filme : Everything is Illuminated
Sendo a estreia na realização de Liev Schreiber (uma cara bastante conhecida de inúmeros papeis secundários), este Everything is Illuminated é a adaptação do romance de mesmo nome de Jonathan Safran Foer (editado pela Temas & Debates em 2004, mas entretanto aparentemente esgotado).
A história é (pelo menos parcialmente) autobiográfica e conta-nos como Safran Foer (Elijah Wood) colecionador obsessivo de pequenos objectos relacionados com a sua família, foi à Ucrânia procurar a mulher que salvou o seu avô de ser executado pelos nazis durante a 2ª guerra mundial. Para esse efeito contrata uma empresa especializada em procurar familiares desaparecidos, tomando assim contacto com Alex (Eugene Hutz - vocalista dos Gogol Bordello - por ventura a única banda de Punk Cigano à face da terra) e o seu inglês macarrónico que aparenta ter saído directamente de um dicionário, sem qualquer espécie de formação sobre a correcta utilização das palavras, bem como o seu avô, e o seu cão, que serão os seus guias nesta viajem.
O filme é de um humanismo extremo misturando de forma brilhante o humor com o drama. A realização surpreende de forma muito positiva, para um actor de 2ª linha, Schreiber sabe muito bem o que faz, e é particularmente notável a forma como transmite emoção através de grandes planos das suas personagens. As interpretações também são notáveis, excepção feita a Elijah Wood que é apenas bom, continuando a basear as suas demonstrações de sentimento nos seus olhos (aqui ainda mais ampliados pelos óculos estilo fundo de garrafa que podem ver na capa).
Para variar tenho boas notícias em relação a possibilidades de se ver este filme por cá, dado ter estreia prevista para dia 27 de Abril. Recomendo vivamente a aquisição de um bilhete (e mais 1/2 dúzia para ofereçer aos amigos)... ( 4 / 5 )
01 março, 2006
Disco : Dresden Dolls - Yes, Virginia
Os Dresden Dolls são Amanda Palmer e Brian Viglione. Ela destrói pianos e canta, ele parte baterias e faz mímica. Chamam à música que fazem "Cabaret Punk", o que me parece uma descrição bastante justa. Quando lançaram o seu 1º álbum homónimo em 2003 (antes já tinham um pequeno CD - A is for Accident - gravado ao vivo para venda nos concertos), tornaram-se a minha revelação do ano, teriam tido destaque na lista de discos se a houvesse na altura, e teriam ficado muito próximo de um 5/5 se não fosse uma faixa com que embirro chamada Jeep Song. As minhas expectativas quando "recebi" este advance do novo álbum eram portanto elevadíssimas...
... E não pude deixar de me sentir algo desiludido com as primeiras audições:
- Em termos imediatos apercebo-me que o som está menos Cabaret e mais Punk, ou seja, está mais vulgar do que anteriormente;
- Também a produção parece inferior ao 1º, a voz da Amanda está menos clara, e nota-se uma total ausência de efeitos, centrando-se num som praticamente "ao vivo";
No entanto com as audições posteriores fiquei completamente viciado no disco, não tendo conseguido ouvir mais nada durante duas semanas... De tal forma que até as minhas filhas já cantarolam as músicas à hora de jantar, o que quer dizer uma de duas coisas: ou o disco está feito para uma idade mental à volta dos 8/9 anos, ou na realidade está apenas mais acessível.
Resumindo, apesar de uma primeira impressão menos positiva, os Dresden Dolls continuam no bom caminho para o domínio do mundo, e podem contar com o meu dinheiro para quando o disco sair em 18 de Abril (ou quando raio chegar a Portugal) e para o hipotético concerto a realizar em Maio (estava previsto para o Santiago Alquimista, mas agora oiço falar em Famalicão)... Altamente recomendado ( 4 / 5 ).
Aproveito ainda para recomendar o DVD da banda, intitulado Paradise, que não sendo um prodígio da tecnologia (imagem fraquinha e som mediano), vale a pena sobretudo pela energia da apresentação ao vivo nele contida... e pela curiosidade do documentário de cerca de uma hora.
... E não pude deixar de me sentir algo desiludido com as primeiras audições:
- Em termos imediatos apercebo-me que o som está menos Cabaret e mais Punk, ou seja, está mais vulgar do que anteriormente;
- Também a produção parece inferior ao 1º, a voz da Amanda está menos clara, e nota-se uma total ausência de efeitos, centrando-se num som praticamente "ao vivo";
No entanto com as audições posteriores fiquei completamente viciado no disco, não tendo conseguido ouvir mais nada durante duas semanas... De tal forma que até as minhas filhas já cantarolam as músicas à hora de jantar, o que quer dizer uma de duas coisas: ou o disco está feito para uma idade mental à volta dos 8/9 anos, ou na realidade está apenas mais acessível.
Resumindo, apesar de uma primeira impressão menos positiva, os Dresden Dolls continuam no bom caminho para o domínio do mundo, e podem contar com o meu dinheiro para quando o disco sair em 18 de Abril (ou quando raio chegar a Portugal) e para o hipotético concerto a realizar em Maio (estava previsto para o Santiago Alquimista, mas agora oiço falar em Famalicão)... Altamente recomendado ( 4 / 5 ).
Aproveito ainda para recomendar o DVD da banda, intitulado Paradise, que não sendo um prodígio da tecnologia (imagem fraquinha e som mediano), vale a pena sobretudo pela energia da apresentação ao vivo nele contida... e pela curiosidade do documentário de cerca de uma hora.
27 fevereiro, 2006
Filme : Mirrormask
Esta é a estreia na realização do meu adorado Dave McKean! Ilustrador e banda desenhista (Cages, Signal 2 Noise, Mr. Punch, etc., etc.), é um dos artistas mais originais e inovadores que conheço, que por acaso passa grande parte do tempo a colaborar com um dos meus escritores favoritos: Neil Gaiman.
Foi precisamente Gaiman que assinou o argumento deste filme, em que uma rapariga adolescente, filha de artistas de circo, que se encontra em dificuldades (a mãe vai ser operada a uma doença grave não descriminada), se vê transportada para um mundo de sonho algo obscuro.
O filme foi produzido pela Jim Henson Company (alias o convite a Gaiman e McKean partiu deles), e sofre do problema dos dois filmes de fantasia anteriores da companhia (Dark Crystal e Labyrinth): apesar de visualmente deslumbrantes, o argumento nunca foi particularmente bem conseguido.
No entanto Mirrormask consegue ter um carisma poético que vai muito bem com os visuais alucinantes de McKean (que estão muito, mas muito à frente de tudo o que vi até hoje) e que o torna muito potável. Não sabendo se alguma vez estreará nas nossas salas cometi o pecado de o ver em DVD, o que honestamente não faz justiça ao filme. Este é mesmo para deslumbrar numa sala de cinema... (3,5 / 5)
Foi precisamente Gaiman que assinou o argumento deste filme, em que uma rapariga adolescente, filha de artistas de circo, que se encontra em dificuldades (a mãe vai ser operada a uma doença grave não descriminada), se vê transportada para um mundo de sonho algo obscuro.
O filme foi produzido pela Jim Henson Company (alias o convite a Gaiman e McKean partiu deles), e sofre do problema dos dois filmes de fantasia anteriores da companhia (Dark Crystal e Labyrinth): apesar de visualmente deslumbrantes, o argumento nunca foi particularmente bem conseguido.
No entanto Mirrormask consegue ter um carisma poético que vai muito bem com os visuais alucinantes de McKean (que estão muito, mas muito à frente de tudo o que vi até hoje) e que o torna muito potável. Não sabendo se alguma vez estreará nas nossas salas cometi o pecado de o ver em DVD, o que honestamente não faz justiça ao filme. Este é mesmo para deslumbrar numa sala de cinema... (3,5 / 5)
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